segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O BICHO DA PONTA GROSSA



                     Enquanto não chega um tempo propício para outras revelações da amiga Fátima, vamos apreciando um material já registrado pelo Luiz Moura, d' O Guaruçá.



             No tempo da colonização feita pelos portugueses, a região da Ponta Grossa, aqui em Ubatuba, que nada mais é que uma belíssima península junto à cidade, foi uma das regiões mais habitadas. Conta-se que até uma enorme fazenda vinícola foi erguida naquele lugar. Segundo testemunhos orais, o português Barroso era o proprietário desta fazenda. Até hoje seus descendentes ainda vivem no bairro do Itaguá. Mas antes disso, conta-se que essa região era um lugar quase inóspito. Era somente pedregulhos, um solo arenoso e seco, onde somente os rústicos capins se atreviam a brotar. Pois foi este lugar que o rico fazendeiro ofereceu a seu compadre pobre que um dia lhe bateu à porta, pedindo não esmolas, mas um pedacinho de terra onde pudesse plantar para o sustento de seus filhos.

           Para lá foi o esperançoso homem trabalhar, sonhando prover pelo menos alimentos para seus dois filhos e esposa. A semana se passava. Era doloroso capinar sob o sol quente a árida terra. Sentava-se para comer um naco de carne seca e farinha junto à boca de uma gruta.

          Um dia, ao olhar desanimado para o eito que nada prometia, cismou por comer seu jabá e não pensar coisas ruins, quando ouviu uma ressonância, um resfolegar, um bafo quente e fétido. Adentrou a gruta devagarzinho, e deu de cara com um monstro, um bicho que lhe fez ouriçar os cabelos, e faltar-lhe o ar. O bicho então falou:

        - Hei, você aí, me coloca pra fora dessa gruta, preciso tomar sol.

        O homem meio desnorteado, mas com muito cuidado e medo, puxou o bicho para fora da toca. Quando foi à tarde voltou para recolher o bicho.

       O tempo foi passando, e o homem já fazia aquilo pela grande amizade que fez com o bicho. Pois esse monstro era o único que ouvia as suas agruras. Cansado de ver o seu querido amigo sofrer, o bicho deu um horroroso rugido e abriu a bocarra, pediu ao homem que metesse a mão dentro de sua boca retirasse o que havia lá. Receoso, mas não tinha nada a perder mesmo, fez o que o bicho mandou. Em sua goela estava um pote de ouro chapado.

       A vida do homem pobre mudou.  Vendo a mudança do compadre, o homem rico foi indagar a origem da fortuna. O homem pobre lhe contou a respeito da gruta que ele denominou de Barroca, e o que se venturou lá. Mais que depressa o homem rico foi ao local e sem dó nem piedade arrastou o bicho para dentro, e arrastou o bicho para fora. Forçou a boca do bicho, que numa só mordida arrancou-lhe o braço.

         Dizem que o jorro do sangue do homem rico corre até hoje lá em forma de uma bica de água dentro da Barroca. A terra se fertilizou, até plantação de uva teve lá, uvas eram cor de sangue.

          Segundo dona Miminha, que hoje habita ao lado do Senhor, aquelas terras um dia foram terras prósperas, onde se cultivava uva para o fabrico do vinho. Tempo depois um alambique foi instalado. Antes das terras dos Barrosos serem vendidas. O início do bairro do Itaguá que conhecemos hoje, se deu com a maioria dos moradores provindos de famílias da Ponta Grossa e adjacências que vieram trabalhar na fazenda dos Barrosos.




Nota do Editor: Fátima Aparecida Carlos de Souza Barbosa dos Santos, ou simplesmente Fátima de Souza, é, sem dúvida, a primeira caiçara da sua geração a escrever sobre temas do cotidiano local. É autora de Arrelá Ubatuba.
(FONTE: O GUARÛÇÀ)


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