quarta-feira, 12 de setembro de 2012

CADA COISA!


Guinho, Gê e Nel (o menor)
  

                Não tem muito tempo que é falecido o tio Tonico, irmão da saudosa mamãe. Era homem bom, afeito à vida religiosa. Vez por outra discorria sobre determinado assunto ou noção que lhe parecia essencial, fazendo me pensar num filósofo. Também era muito curioso.

                Já a tia Ana, sua esposa, sempre agiu mais pela emoção, se impressionando depressa por pouca coisa. Esta característica da titia, dentre outras, permitiu ao seu filho (Nelson) vivenciar a seguinte situação:

                - Pois é, Zezinho! A minha mãe é assim mesmo, se assombra por pouca coisa! Imagine você que, na semana passada, ao chegar tarde da noite em casa, ela, como é de costume, estava acordada tendo ao lado o cesto de costura. Logo foi me dizendo de coisas estranhas em casa, de um barulho muito diferente, como se fosse um peixe roncador no balaio, mas num tom tenebroso, parecendo um tremor. Bastava ficar quieto para perceber a manifestação. “Coisa de assombração”, me garantiu.

                E continuou:

                - A coitada estava rezando, aspergindo os cantos da casa com água benta e até fazendo promessa. Enquanto isso todo mundo dormia. A minha mãe tem uma audição muito boa. De repente parou a falação e me ordenou que prestasse atenção. Eu também escutei. Vinha do quarto da Amélia, de um aparelho que estava sobre a cômoda. Mostrei para a minha mãe que aquilo era a assombração. Foi o seguinte: o celular estava no modo de alarme de vibração. Então, espaçadamente, com um efeito maior devido à madeira fina do móvel e ao silêncio da noite (e da vizinhança!), produzia a “assombração”. Rimos muito.

                Eis a conclusão do Nel:

                - Fiquei com muita dó da mamãe. Sabe por quê? É por que, da tão estimada e venerada “garrafa de água benta do Padre Donizete”, restou quase nada, um dedinho só. Adivinha quem vai ter de subir o Morro da Anta para completá-la na biquinha dos antigos?

                Emendei a narrativa dizendo que, para uma assombração de tão alta tecnologia, logo vai ser preciso inventar outra espécie de água benta. Mas isto é tarefa para uma Igreja Virtual, né?

                Assim avança a filosofia, que é uma reflexão sobre saberes disponíveis.

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