terça-feira, 25 de setembro de 2012

NO REINO DA FOLHA SECA


Em 1975 já era possível saber qual seria o futuro do jundu da Praia Dura.

                Por que os caiçaras deixaram o jundu das praias e foram morar nos sertões, longe do mar?

                Escolhi alguns textos para que as novas gerações entendam a lógica que substituiu as casa simples (nas áreas preservadas junto ao mar, de todos) por casarões murados que obrigaram até os guaruçás a abandonarem suas tocas.

                Hoje deixarei que a Fátima de Souza dê o seu ponto de vista. A sua parte materna ocupavam o jundu da Praia Dura. O seu avô era o Inspetor de Quarteirão, que representava a polícia e a justiça numa determinada área. Estamos recordando do caiçara Salvador Carlos. “A sua jurisdição ia do Rio Escuro à Lagoinha. Não tinha remuneração, somente a soberba de ser um homem respeitado e assediado”.

                O texto, parte de seu livro Arrelá Ubatuba, explica melhor:

                “Dias atrás resolvi fazer uma visita aos meus parentes que moram no bairro da Folha Seca, nas terras herdadas de meu avô, o Inspetor de Quarteirão.

                Assim como muitos outros caiçaras que moravam na beira da praia, ele também foi convidado a deixar seu lugar com seu rancho de canoa, plantação e criação, para dar lugar às grandes mansões que vieram em  nome do progresso.

                Essas moradias à beira mar, aos olhos dos especuladores imobiliários, não tinham nada a ver com o projeto daquele condomínio a ser construído. Uma vez que sua simples e singela casinha estava assentada numa área que valia ouro. Sentindo-se inseguro com uma segunda família para cuidar, o Inspetor de Quarteirão aceitou uma casa num pedaço de terra na Folha Seca, próximo à Serra do Corcovado.    Na sua concepção era uma troca justa porque o “Doutor” tinha sido muito convincente alegando que estava proporcionando aquele sonho de ter um sitiozinho mais produtivo. Ledo engano.

                O tempo foi passando, e, ao correr atrás do “grileiro” em busca de sua documentação que lhe garantiria ser proprietário das terras para onde foi “jogado”, a decepção lhe caiu como uma flecha certeira. Tinha sido ludibriado. Hoje, seus filhos que moram lá estão na justiça com um processo de usucapião”.

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