terça-feira, 21 de junho de 2016

CORAGEM EMPREENDEDORA

Trabalhadores em plena produção (Arquivo Igawa)

         Acompanhando o relato das atividades do Sr. Igawa, enxergamos um dinamismo para superar as crises que aparecem no nosso contexto, sobretudo na década de 1980. É uma grande aposta que ele faz no potencial de pescados em Ubatuba! Coragem mesmo! 
          Em época assim, onde as tainhas aparecem em nossas águas, como é bom recordar um tempo de mais fartura, onde barcos e mais barcos, de diversos pontos da costa Sudeste e Sul, se avolumavam para descarregar toneladas e toneladas no porto (Caisão) de Ubatuba.

Crise:
     Mas ter a matéria prima – a sardinha – para trabalhar, era bastante complicado, não havia interesse dos barcos pesqueiros em descarregar a pescaria em Ubatuba pela falta de gelo para o reabastecimento dos barcos. A rotina era a seguinte: os barcos seguiam para os pontos onde “boiavam” os cardumes na época certa, no “escuro”,  com o porão cheio de gelo, pois assim os peixes se mantinham frescos até o descarregamento. Sem gelo não era possível a pesca. Em Ubatuba, a produção de gelo ( da antiga fábrica do governo estadual no cais do porto e na do sr. Osvaldo Monte, na rua Adutora) era muito limitada e insuficiente para abastecimento de todos os barcos. Sem sardinhas, sem produtos para vender e um tanto de funcionários a receber seus salários,  sem poder abastecer o armazém, acabou por fechar o comércio de secos e molhados. Em seguida, colocou à venda o terreno da salga mas não conseguiu nenhum interessado em muitos meses.

Busca de solução:

     Sr. Igawa resolve hipotecar sua casa em São Paulo e a propriedade em Ubatuba como garantia para um empréstimo no Banco do Brasil para a construção de um barco pesqueiro e de uma fábrica de gelo. Nesse tempo o armazém no Paraná também já fora vendido. Os projetos de barco e fabrica de gelo são concluídos em 1972. Assim, com matéria prima e gelo para o barco, a empresa começa a se reerguer. Vem melhorias, são construídos alojamentos para os  trabalhadores vindos de fora da cidade (Catuçaba, S. Luis do Paraitinga, Parati, Camburi). As mulheres limpadoras das sardinhas (era tudo manual) de bairros distantes, como Pereque-açu e Ipiranguinha, contavam com uma kombi para buscá-las e levá-las de volta para casa. Em 1976 é construído novo barco – o Aladim, o primeiro tinha o nome de Atalaia. Trabalhavam embarcados por volta de 20 homens, a maioria vindos da Picinguaba. A produção de gelo abastecia os barcos próprios, barcos de terceiros e,  também, e  que foi fundamental para o turismo crescente na cidade, foi a venda de gelo para os pequenos comerciantes de raspadinhas, bebidas e coco na praia e aos ambulantes que pegavam o gelo  para distribuir às barracas e trailers afora. O gelo era em formato de barra compacta pesando 25 quilos e bem  resistente ao derretimento .

segunda-feira, 13 de junho de 2016

FEIRA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL - RELATOS (I - A)

Etapa das entrevistas (Arquivo JRS) 

 Relato I – segunda parte

         A partir dos pontos convergentes (enchentes, esgotos, poluição do córrego e vida do bairro), foram elaboradas 32 questões. Selecionei algumas que me pareceram mais incisivas em torno de tais pontos.  (Embora no final do trabalho eu tenha reconhecido que escaparam outras questões talvez até melhores).
           Achei necessário formar as equipes de trabalho (sete ao todo), evitando que ocorressem as “panelinhas”, que os mais quietos ficassem isolados etc. Eles não gostaram muito, mas no final admitiram que “foi melhor assim, pois conhecemos melhor fulano de tal, sicrano falou mais, beltrano se revelou etc.”. Seis equipes foram para as entrevistas e uma ficou responsável pelo mapeamento e remapeamento  (as alterações de traçados e outras anotações julgadas relevantes durante o trabalho de observação.
               Ah! Ia me esquecendo! Escolhi a área onde seria feito o estudo: duas ruas próximas a um córrego, distando, no mínimo, 50 metros da escola. Por acaso? Não.  Desde o início eu já visava alguns princípios de educação ambiental e o exercício da cidadania (objetivo da OSPB).
           Timidamente saímos às ruas e fomos pelas casas, cumprimos o planejado, concluindo após a greve na Rede Estadual de Educação;  entregamos ao representante da SABE (Sociedade Amigos do Bairro da Estufa), Edson Malaquias, o relatório final.
          Pessoalmente fiquei muito satisfeito com tudo, mas há muito a fazer para alcançar a interdisciplinaridade em tal proposta de trabalho. Sonho com o dia em que a matemática plicará conceitos básicos de estatística, cálculos, probabilidades etc.; a educação artística, a partir das embalagens coletadas nas ruas, fará um estudo de formas de letras, composição gráfica, perspectivas etc.; a história resgatará a memória do bairro e fornecerá elementos para um estudo sociológico; a geografia mostrará as transformações e suas consequências na vida e no ecossistema; o ensino da língua portuguesa será a partir de erros e acertos durante o método etc. etc... Tudo isso a partir de uma situação muito próxima, acessível a todos; de um estudo do meio, do entorno onde está a escola.
      Também cabem muito à classe (8ª A) os méritos do trabalho aqui apresentado.

        Termino com uma frase do representante da SABE, Edson Malaquias, ao receber o relatório do trabalho (ele foi até a escola para o evento de entrega): “Fico contente por saber que uma nova escola está surgindo. Me alegro muito por sentir que vocês já estão participando da vida do bairro e já sabem de coisas que muitos adultos não conseguem ver. Continuem assim!”.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

FEIRA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL - RELATOS (I)

Entrevistando moradores na rua Petrópolis (Arquivo JRS)

                     Seja bem-vinda Sheila Vilela!

         A partir deste, vou publicar as ações de um grupo de professores na realidade do Litoral Norte Paulista, cujo resultado foi a Primeira Feira de Educação Ambiental, em 1993, na Escola “Capitão Deolindo”, em Ubatuba.

                Relato 1 – Parte I
                Educação ambiental se inicia no próprio bairro

                Com este título apresentei o meu  primeiro projeto na escola (“Aurelina” – Estufa II), em 1993, com o apoio da ONG Vivendo a Terra.

               Um projeto não precisa necessariamente ser algo grandioso, que atinja milhares de pessoas ou transforme o mundo. Uma pequena atividade, desde um pequeno trabalho em sala de aula, já pode ser caracterizado como e receber o nome de projeto.
               Sempre acreditei nos mínimos gestos gerando gigantescas transformações;  acredito na importância de cada formiguinha no pleno funcionamento do formigueiro. Apesar de muitas falhas, sempre estou tentando fazer o mínimo para melhorar o mundo.
               Partindo dessa filosofia é que sempre quero aplicar as descobertas que a mim são proporcionadas.
               Desde que participei do curso, onde a professora Nídia Nacib Pontuschka (USP) expôs o que é o Estudo do Meio e fez com que aplicássemos na prática, inclusive com a própria participando, fiquei pensando e aguardando uma oportunidade para desenvolvê-lo com os alunos.
                  Por que tal aflição?
               Porque percebi que, de fato, no meio onde está a escola, tudo pode e deve ser aproveitado ao máximo como recurso pedagógico e, consequentemente, questionar a sociedade que aí está (onde a vida  -  humana e da natureza  -  é tão desprezada) e fornecer elementos de transformação. Vai ao encontro daquilo que acredito: aprender a partir do que temos e somos.
               Neste ano (1993) me coube trabalhar com uma classe de 8ª série, na Escola “Aurelina”, a disciplina de OSPB (Organização Social e Política Brasileira). Inicialmente eram 26 alunos e, durante o ano, 03 desistiram ou pediram transferência da escola. Eu decidi: é com essa turminha que farei o estudo do meio no bairro da Estufa II.
               Revisei os passos o método:
1º Sensibilização na escola (falar sobre o método): direção, professores e alunos.
2º Saída para observação da área com os alunos: conhecer mais o bairro e anotar tudo o que chama a atenção.
3º Ver os pontos convergentes nos trabalhos de anotações: escolher algum (s) para trabalhar (eixo do trabalho); formular questões para entrevistas a partir deste (s) ponto (s).
4º Pesquisa de campo: após cada saída (entrevistas), voltar à sala de aula para discuti-las e no final fazer observações escritas.
5º Tabulação das entrevistas: resultado final; conversa na classe.
6º Apresentação à escola: mural, painel etc.
7º Retorno à comunidade: entrega do resultado do trabalho à sociedade amigos do bairro.