quarta-feira, 30 de outubro de 2013

COISAS DE CAIÇARA

"Cedinho no lagamar" - 1/30 - (Arquivo JRS)

     Estou adorando o curso de xilogravura. São poucos os companheiros e companheiras. A professora "é gente nossa", simples e dedicada. E... as coisas... apesar de pouco tempo, fluem.

        Hoje apresento o primeiro trabalho mostrando coisas de caiçara. A tiragem é pouca, mas estou vendendo para ajudar nas despesas deste prazer chamado xilogravura.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

CANTORIA DO CHICO ALVES


Salvino, na pobre morada do Alfredinho, interpreta Chico Alves -1988 (Arquivo JRS)

Ontem, ao publicar a música do finado Francisco Alves da Silva, fiquei pensando se a maioria das pessoas entenderiam o sotaque tão caiçara na toada. Assim, resolvi transcrevê-la.

Eu fui aquele que andei (2x)
Sessenta léguas no dia (2x)
Para ver se breganhava (2x)
Tristeza por alegria (2x)

Refrão: Pela Barra de Ubatuba e de São Sebastião
             Vou comprar um pouco de barro pra fazer o meu boião.

Dai-me um beijo que eu dou dois  (2x)
Dai-me dois que eu dou duzentos (2x)
Me dai duzentos e dez (2x)
Que eu dou mil e quatrocentos (2x)

Refrão.......

Santo Antônio de Lisboa (2x)
Foi serrado com serrote (2x)
Mulher tem força na língua (2x)
Que nem boi tem no cangote (2x)

Refrão.........

A viola não diz nada (2x)
Pela bulha do pandeiro (2x)
O nosso padre-vigário (2x)
Não diz missa sem dinheiro (2x)

Refrão..........

Eu vou dar a despedida (2x)
Agora não canto mais (2x)
Vou fazer a minha casa (2x)
Entre suspiros e ais (2x)

Refrão.........

Em tempo: Apresentei a versão do tio Maneco Armiro, um antigo rabequista da Praia da Fortaleza. Foi quem me explicou: "Os antigos iam até São Sebastião para comprar panelas, potes de barro. Toda a louça do pobre era de barro. Vinha da Praia de São Francisco".  O amigo Peter, representante da Praia da Enseada, deu uma contribuição na parte do refrão:
"Trabalha do Ubatuba, de Santos, São Sebastião". É...também tá dentro do espírito da música! Valeu mesmo!

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

ANIVERSÁRIO DA “CIDA” E...



Hoje é data especial para os ubatubenses. Afinal, já se consolidou que o dia 28 de outubro de 1637  é a data de fundação da Vila Nova da Exaltação da Santa Cruz do Salvador de Ubatuba, que hoje se resume a Ubatuba. 

A história oficial diz: a partir de um “pedaço de terra”, depois de passar por alguns nomes, foi cedido a Jordão Homem da Costa o mérito da fundação da vila. Porém, um livro do Tombo da Paróquia de Santo Antônio de Caraguatatuba, relata da seguinte maneira a criação do município:

“Em 1600 e tanto começava a crescer-se a primeira villa nesta Caraguatatuba. Nesse tempo mesmo, sobreveio uma epidemia que devorou parte do Povo, descorsoado o restante do povo dirigiu-se para Ubatuba onde levantarão ali uma nova Freguezia, levando estes emigrados o cartório deste para aquele; e que hoje gosa a Cathegoria de Cidade. Isto antes de ser inaugurada a Villa de São Sebastião (...)”.  

Portanto, há esta possibilidade: foi a vila fundada por um pessoal que fugia de epidemia no começo do século XVII.

Polêmicas à parte, quero agora homenagear a “Cida”, o mano Mingo e a Diana Narita, com uma gravação feita em 1974, com o finado músico Chico Alves, morador do Sertão do Puruba. É um serra baile (ou uma tontinha) que animava os bate-pés dos festeiros caiçaras de antigamente, quando não existia essa massificação cultural tão medonha.

sábado, 26 de outubro de 2013

UM PRESENTE PARA A DONA CIDA

           Conforme eu prometi no texto anterior (Aniversário da Cida), estou buscando presentear a aniversariante. Afinal, ela não tem culpa de ter alguns filhos ingratos, aproveitadores, desleixados etc. 

      Ainda bem que tem muita gente boa dando o melhor de si para que se multiplique melhores comportamentos, principalmente aqueles que irão colaborar na melhoria das condições de vida da "Dona Cida"! 

       Hoje, faço questão de apresentar o trabalho realizado por alguns dos nossos alunos surdos, sob a dedicação da professora Alexandra Suzano. Eles foram os vencedores da Mostra de Cinema Estudantil ocorrida no mês passado.  Valeu mesmo!




quinta-feira, 24 de outubro de 2013

ANIVERSÁRIO DA CIDA

Vem aí!!!  Tá chegando!!!   (Arquivo JRS)
            O ser caiçara também tem o seu jeito de "malhar o Judas".

        Tenho aqui em minhas mãos um jornal que parece ter sido feito às pressas. 
     Jornal é um meio de comunicação interessante. Tem de tudo, desde as notícias mais próximas até coisas de japonês, do outro lado do mundo. Tem, sobretudo, muitos devaneios, propagandas, vontade de aparecer e de “fazer a cabeça dos outros". Coisa de jornal, né? 
     Pelas propagandas é possível saber do aniversário da Cida. Será na próxima semana. Mas já?!? Como o ano está passando rápido!!! Diz o texto que ela está se cuidando, sendo bem tratada. Que bom saber que ainda tem gente “tão prestativa, que se doa gratuitamente, sem nenhum interesse mesquinho”! Por que eu também não sou assim? Resolvi! Ainda dá tempo de comprar um presente!
   Deve ter Cida e dona Cida por todo canto. É reflexo da religiosidade brasileira: Aparecida, a santa encontrada no rio...Cida...Dona Cida, a aniversariante! Vamos desafogá-la? Ou vamos deixar morrer? O meu amigo Júlio, se eu lhe falar disso, é bem capaz de propor uma redada imediatamente. “Aquele neto do Lindorfo é rapaz influído!". Remadores não faltarão, né Peter? 
(Arquivo JRS)

       Já me disseram que foi parente da dona Cida quem colocou uma placa na beira do rio, na Rua Frei Tarcísio, a esburacada,  no Bairro Jardim Ipiranga, em Ubatuba (que é a Capital do Surf, das Obras Irregulares, das Ruas Esburacadas, dos Impostos mais Caros, dos Ciclistas que ainda precisam de educação, etc...etc...). Qual dona Cida escapa dessa sina?!? 

      Outra parente dessa mesma dona, na semana passada, denunciou o abandono do Bairro da Figueira. “Uma ponte caiu na Rua Bem-te-vi”. (Só espero que tenham resolvido alguma coisa em vez de mandá-la para a ponte que caiu). A propósito, já tem gente revoltada querendo voltar a usar a Rua da Cascata, no Ipiranguinha, nos dois sentidos. Se isso acontecer, a  culpa será de quem? Em tempo: as crateras continuam dando prejuízos; danam os nossos veículos.

     Também é gente da dona Cida um admirador de guaruçá que sempre publica umas fotos que sujam a fama da aniversariante. Deve ser mentira tantas irregularidades! O meu vizinho, também Zé, afirma: “É o tal de fotoshop...montagem mesmo! Imagine se tem gente que ocupa os lugares públicos com cartazes!? Imagine se tem gente a dormir pelas ruas e fazendo suas necessidades nos passeios públicos!? Imagine se tem fiscais que não fiscalizam!? A dona Cida não permitiria isso!”. Mas eu garanto que  é verdade, que as praias e outros lugares estão tomados por ambulantes que não ambulam. Mas é verdade que a maioria das obras e puxadinhos não constam sequer de placa de engenheiro responsável. Mas é verdade que nossos rios se tornaram canais de esgotos. Mas é verdade...Mas é verdade...Mas é verdade...

     E por falar em dona Cida, por onde andará aquela senhora de mesmo nome, da Estufa, que deu exemplos de como fiscalizar os homens públicos (que renunciaram a vida privada para melhor servirem a coletividade, mas sem se despregarem da privada)? Isso vem de outros tempos!

     Por ocasião de mais um ano de vida, notando que a dona Cida vai sobrevivendo, posso fazer mais do que consolá-la dizendo que “os seres humanos são assim mesmo, procuram o bem individual e esquecem o bem coletivo, sendo o sentimento de prazer procurado apenas no que é imediato”. Posso - e devo! - valorizar os exemplos de parentes da mesma que não se conformam com as coisas erradas. São provas de que a amam. Afinal, a Cida...e as tantas irmãs delas por esse "mundo de meu Deus" precisam ter as suas necessidades satisfeitas.Agora, se me dão licença, preciso pensar no presente da amiga e mãe de tanta gente. 
        Parabéns, dona Cida!

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

NA ROÇA DO CAETANO


Caetano na roça (Arquivo JRS)

 Alessandra Cerqueira: seja bem-vinda!

         Já vem de muitos anos a minha amizade pelo Caetano e seu filho (Zé Carlos). Desde aquele tempo (1982) sei que trabalham na terra, produzem um monte de coisas para o nosso consumo. Porém, foi a partir de um curso de apicultura que estreitamos mais os nossos laços. Por isso sinto a necessidade de, regularmente, me encontrar com esse pessoal para um bom papo, onde aprendo sempre alguma coisa da lida na roça e dou boas risadas com seus causos. Ah! Também vou sabendo da nossa história! Afinal, o Caetano é de Natividade da Serra, mas veio morar nesta cidade (Ubatuba) no início da década de 1950.

O pai do Caetano, assim com muita gente das “Terras de Serra Acima” daquele tempo, enxergou na cidade praiana, onde nascia a atividade turística, uma chance de recomeçar a vida, mas continuando com aquilo que fazia muito bem: cuidar de animais, plantar e negociar seus produtos. Assim foi criando os filhos. Um deles, graças à educação escolar e a disposição para o trabalho, deu no que deu: um produtor rural que muito nos orgulha. Que ele nos conte como foi.

“Meu pai era um bom comerciante. Tinha muita terra e produzia muita coisa na Vargem Grande. Só que um dia ele resolveu vir de vez para Ubatuba. Assim viemos para o bairro da Marafunda.
Ele nos criava do jeito dele, sem nem se perguntar se precisávamos estudar. Era o costume da roça...foi criado desse jeito... Só que um vizinho, o finado Carmo, um funcionário do Horto, me convidou para ir à escola (que era no mesmo lugar onde ele trabalhava). Eu fui e não me arrependo nunca disso! Era o ano de 1958.
Era difícil acordar cedo, ter de caminhar até a escola do Horto, enfrentar uma professora brava - a dona Zélia. Era esposa do André, o gerente da serraria da cidade, da “esquina da máquina”.            Depois do Exame de Admissão, fui estudar na cidade, na escola “Esteves da Silva”. Fiz até a sétima série. Um amigo - Teiji Matsuoka -  até quis que eu fosse com ele estudar em uma cidade de Minas Gerais, mas eu já estava muito apegado aos prazeres dessa vida para deixar Ubatuba. De lá pra cá só trabalhei na lavoura. Ah! Teve um tempo que eu tinha uns animais nas terras da Vargem Grande. Subia e descia a pé pelo Caminho da Cachoeira dos Macacos quase todo final de semana para cuidar deles. 
Eu devo muito à escola, aos estudos. Graças ao Carmo e a muita gente boa, meus professores, eu sei ler! Me viro bem porque tenho leitura para entender bem as coisas. O meu filho então nem se fala! Ele é que estudou mesmo! Sabe coisa do arco da velha!”.

Vale a pena conhecer a roça do Caetano, no início da Estrada do Monte Valério!
        Vale a pena adquirir os seus produtos cultivados de forma bem natural e saudável!
Vale a pena bater um bom papo com o sempre bem disposto Caetano! Ele me lembra muito do saudoso vô Estevan, um caiçara da Praia da Caçandoca.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

OS PERIGOS DAS TRILHAS DE UBATUBA


A caminhada ao Baguari de  Fora está se desdobrando. A introdução é da filha 

do saudoso Nequinho, da Praia da Enseada. Depois, do blog do amigo Peter 

(canoadepau.blogspot.com), as coisas vão mais a fundo. 

É mais uma bandeira de luta, onde se almeja o respeito do espaço caiçara, de um 

bem público preservado por tantas gerações de pescadores-roceiros.


CAIÇARA... SE DEPENDER DO MINISTÉRIO PUBLICO A CULTURA 

CAIÇARA FINDA!!! BONS TEMPOS SE VÃO SEU NEQUINHO DE 

SAMBURÁ EM PUNHO PRA PRO BOQUEIRÃO IA ATRÁS DA 

GAROUPA, VERMELHO E "SARGO"... E HOJE SE DEPENDER DO 

MISTÉRIO PÚBLICO VEJO ISSO APENAS EM FOTO...TRISTE FIM DA 

CULTURA DE UM POVO... VALOROSO!!!


Mais uma vez faço menção ao Blog Coisas de Caiçara do meu amigo Zé Ronaldo que muito bem descreveu a importância turístico-antropológica  das trilhas e caminhos de servidão que dão acesso às praias e costeiras de Ubatuba.
Em 2007 quando foi feita mais uma tentativa de atualizar a Lei de Uso e Ocupação do Solo de Ubatuba (a LUOS) através do Projeto de Lei - PL 106, nós do grupo de trabalho da região Centro-Sul atentos a esta importância das trilhas, inserimos na Seção II - Das vias existentes e projetadas, o Item IV - Trilhas e Acessos Tradicionais com o seguinte regramento: Art. 26, §3 - As trilhas e acessos tradicionais também serão mapeadas e classificadas como interesse turístico/social sendo impedidas de intervenções que as descaracterizem em tamanho e largura, sendo permitidas intervenções brandas somente nos casos em que a segurança de turistas e moradores locais estiver comprometida.
Além disso também inserimos os seguintes itens fundamentais que não existiam no PL 106:
XL.São sítios pesqueiros e Aquícolas são áreas onde são exercidas as atividade econômica da pesca  e da aquicultura  conhecidos, nomeados, defendidos, delimitados e manejados pelos pescadores e aquicultores  em sua faina pesqueira, territórios de uso das sociedades pesqueiras a partir do trabalho e do conhecimento dos processos naturais que atuam neles.
XLI. uso sustentável, exploração do ambiente de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade e os demais atributos ecológicos de forma socialmente justa e economicamente viável.
XLII. populações tradicionais ,São consideradas populações ou comunidades tradicionais os grupos humanos culturalmente diferenciados, fixados numa determinada região, historicamente reproduzindo seu modo de vida em estreita dependência do meio natural para sua subsistência, notadamente os Caiçaras, os Quilombolas e os Indígenas.
XLIII. trilhas, são os caminhos ou picadas que dão acesso à pontos turísticos tradicionais ou não, caracterizados por permitir apenas o trânsito de pedestres.
XLIV. acessos tradicionais, são os caminhos ou picadas utilizados por comunidades tradicionais.
XLV. comunidade local, população de um bairro representada por sociedade civil organizada e não organizada.
Na oportunidade fiz um giro pela trilha da Ponta do Espia até as Toninhas registrando tudo com algumas fotos.



Percebe-se pelas fotos que antes, onde era um Caminho de Servidão, foram construídas ruas com calçamento e é gritante a descaracterização da Trilha de acesso a Praia do Tapiá que nesta época ainda estava aberta ao livre trânsito de pedestres como assegura nossa Constituição Federal.
Hoje esse Caminho de Servidão encontra-se fechado com cercas de arame farpado à revelia de nossa Carta Magna.
Foto: Julio César Mendes
Pior ainda, o próprio condomínio considera a Praia do Tapiá como uma praia "particular" conforme uma matéria da Revista Veja de 2009:
"Com 137 lotes (dos quais cerca de dez estão à venda) e 55 casas, o Condomínio Ponta das Toninhas virou reduto de bacanas. Localizados no alto de um morro, muitos dos terrenos têm vista cinematográfica para o mar. As casas, todas com mais de 400 metros quadrados de área útil, são negociadas a partir de 1 milhão de reais. "Usamos uma prainha exclusiva, com acesso por uma trilha que começa no loteamento", diz Filippo Frenda, presidente do condomínio. "Isso valoriza os imóveis."
Aliás a reportagem mostra muito bem qual é a "política" que rege nosso patrimônio ambiental em Ubatuba.
Até quando tudo isso poderá ser feito sem qualquer tipo de fiscalização ou providência cabível?
Como bem denunciou o Julinho Mendes em 2011: "Que esse grito seja ouvido pelas associações caiçaras e outras de interesses ecológicos e turísticos e principalmente pela promotoria pública de nosso país".Em http://www.ubaweb.com/revista/g_mascara.php?grc=34976 

DIA DE ANDAR


Mamão de macaco, jequiriti e.... (Arquivo JRS)
          Seja bem-vinda Emanuella Fênix!

O que as pessoas chamam de trilha pode ser uma estrada ou uma picada por entre a mata. Eu ainda prefiro chamar de Caminho de Servidão. De vez em quando faço as minhas caminhadas para rever tais caminhos. São as referências mais antigas das rotas caiçaras.

Por esses dias eu refiz a estrada da Ponta Grossa e o  Caminho do Baguari de Fora com algumas pessoas que muito estimo. Passamos por várias casas, verdadeiras mansões, com placas de VENDE-SE. Um dos amigos me ajudou a refletir: “Eles (ricos) se apoderaram de lugares nobres, aterraram, edificaram...Gozaram até. Agora, finda-se o deslumbramento: as coisas se degradam, os miseráveis pedem ou sobrevivem de subempregos, invadem os espaços, tornam-se poluidores evidentes etc...etc...”. Parecem dizer: “Já que o poder público não nos atende mais, não tem mais graça manter esse espaço em Ubatuba”. Em muitos casos o estrago está feito, parecendo impossível reverter alguma coisa. Em outros há desafios. 

Refazer, redescobrir os Caminhos de Servidão (as trilhas dos nossos antigos) parece ser uma atitude importante. Tombá-los garante ao menos duas coisas: o acesso - para todos! -  aos nossos bens culturais (materiais e ambientais) e a certeza de que não construirão em locais de grande importância preservacionista, sobretudo nas costeiras com vegetação tão especial de pindobas, brejaúbas, embiruçus, manacarus etc. Neste sentido, chegando no rancho do Baguari de Fora, o Luiz, que se encontrava por ali remendando rede, me chamou para mostrar um casal de jacuaçu empoleirado numa enorme aroeira, na porta da cozinha. “Sabe por que eles vivem por aqui há mais de três anos? É porque em outros lugares não tem mais comida, as fruteiras foram cortadas, tem gente que caça...Aqui eles estão bem. Só tomam cuidado com o cachorro que costuma dar uns pegas”.

Eu não preciso de nenhum apoio oficial para fazer tal atividade, mas os Caminhos precisam ser oficializados, defendidos por leis. Caso contrário, eles serão arbitrariamente obstruídos, indevidamente ocupados por mansões ou por "assentamentos informais". É o que aconteceu com o Caminho das Praias de Fora, depois da Praia da Maria Godói, no condomínio da Ponta das Toninhas, onde a fecharam com uma cerca reforçada de arame que não deixa ninguém passar, conforme já foi denunciado pelo amigo Júlio Mendes. Me parece que o acesso para a Praia da Santa Rita, de acordo com o Marquinhos, vai no mesmo rumo.
Muitas coisas atrai a atenção pelos caminhos de servidão. Ouso pedir que atentem à geologia dos locais (pedras amontoadas, cavas de casas, raízes que seguram tudo, cacos de cerâmicas...). No fundo, eu gostaria de desenterrar, analisar e estudar o material encontrado. Traria luzes a respeito do nosso passado e empolgaria mais os visitantes.

          O turismo de qualidade pode voltar a crescer em nosso município! 
Que legal tentar reconstruir os caminhos por tanto tempo percorrido por nossos antepassados!

Não será, decerto, que retomar os caminhos é voltar a usufruir das dádivas da natureza, de aprender com ela?
Nessa derradeira caminhada (com o Estevan, Jorge e Rafael), além de umas belíssimas sementes pretas, o Luiz disse que o fruto encontrado logo ali, bem cheiroso, é um mamão de macaco. Beleza! Aprendi mais esta! Aprendi mais um monte! Aprecie a fotografia.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

ESPAÇOS MUSEOLÓGICOS (III)



                 O texto anterior faz referência ao prédio do nosso antigo posto de saúde, quase sempre despercebido ali na  Praça Treze de Maio.

                Pela sua localização, bem que merecia uma atenção especial, ter uma serventia mais abrangente, onde o maior número de pessoas pudesse crescer através de um apelo cultural. Não sei o que seria, mas não custa parar para refletir. Afinal, o espaço e a obra  têm uma localização privilegiada, um passado a nos revelar histórias de vontade em ver o nosso lugar ser melhor.
           Quanta gente precisou de um bom atendimento nesse lugar?! Quantas pessoas estão vivas graças à intervenções de médicos e enfermeiros que ali se devotaram?!

            Só para recordar......

         Em 1972, numa manhã de outono, quase na hora do almoço, quando morávamos bem perto da praia do Perequê-mirim, a saudosa tia Maria (do tio Bernardino Barreto) chegou em nossa casa. No colo trazia o meu primo, o pequeno Jânio. Era uma visita bem vinda! Afinal, mamãe a adorava!
                Depois de acomodar o bebê numa das camas, a titia foi ajudar a acabar de fazer o almoço. Era tempo de peixe-espada. Só à tarde eles retornariam à praia Brava (da Fortaleza).
                Assim que surgiu uma oportunidade, a titia desabafou:
                - Pois é, Laurentina! Você acredita que o doutor De Luca ficou bravo comigo, mas eu nem sei por qual motivo?
                - Mas tem que ter um motivo. Respondeu a minha mãe.
                - Tem, mas não tem. Foi assim: a enfermeira preencheu um papel e depois me encaminhou para um lugar, à espera do médico. Tinha mais gente: umas dez pessoas esperavam para serem atendidas. Quando chegou a minha vez, ele examinou a criança muito bem, fez algumas perguntas; recomendou que eu o alimentasse com sopinha de inhame uma vez por dia. Até aí tudo bem. De repente, ao pegar a ficha para anotar as suas indicações, o homem ficou vermelho, alterou a voz e começou a dizer quase que desaforos por causa do nome do Jânio. Disse assim: “Onde já se viu dar um nome deste a uma criança! O Jânio foi um traidor do povo! Todos votaram nele. E o que fez o sem-caráter? Abandonou o governo do país etc. etc. etc.!”.
                Muitos mais a tia Maria, filha do Nhonhô Almiro, nos contou naquele dia. Estava indignada com o médico, mas fazer o quê? Só mais tarde, estudando a História do Brasil, eu compreendi melhor as colocações do médico, morador da esquina das ruas Hans Staden com a  Conceição.  Porém, nunca lhe dei razão alguma. Que culpa tinha uma criança por receber um nome de alguém que ele (médico) não admirava? Tenho quase certeza que nem os pais, autênticos caiçaras, isolados das notícias de longe, sabiam muita coisa do personagem Jânio Quadros, o presidente do Brasil que renunciou após alguns meses de governo.
                Já imaginou quantas histórias nos contaria, caso escutasse e falasse, aquele prédio do Posto de Puericultura existente desde o final da década de 1940, na Praça 13 de maio!?
                Finalmente a titia encerrou o assunto assim:
                - Que culpa tem o Jânio?

sábado, 12 de outubro de 2013

ESPAÇOS MUSEOLÓGICOS (II)


                Andando por ali mesmo, sem se afastar do Mercado de Peixe, em Ubatuba, uma obra atesta o empenho de tantas pessoas do passado para edificar uma cidade sobre as terras que abrigaram a aldeia de Iperoig, comandadas por Koakira, o último cacique, da época da “Traição de Iperoig”. Trata-se da Escola Estadual Dr. Esteves da Silva.

                É bem na margem do Rio Grande, em frente à Ilha dos Pescadores, que continua funcionando a Escola “Esteves da Silva”. Está lá desde 1896. Nesses moldes, deve ser um dos mais antigos do Estado de São Paulo. Imagine a alegria da população daquela época pelo desenvolvimento da instrução pública dessa cidade! Apenas os meninos estudavam. Só em 1908 foi instalada a seção feminina no grupo escolar. Antes disso, as meninas cujos pais deixassem estudar, tinham de ir ao Perequê-açu ou ao Itaguá. Era onde estavam as “escolas” isoladas femininas. Tempo difícil, né?  *(Essas escolas funcionavam em salas adaptadas de casas simples).

                O local, com uma visão privilegiada da boca-da-barra de Ubatuba, originalmente pertencia à família Pires Nobre, intendente municipal ("prefeito"). Era uma chácara, com um prédio  colonial, cuja data de demolição é de 1943. Naquele tempo a Rua Jordão Homem da Costa ainda tinha a denominação de São Salvador.
                Doutor João Diogo Esteves da Silva foi médico, professor e deputado (eleito em 1898). Imagine isso: uma cidade isolada, longe das decisões, mas tendo um deputado, um representante do Litoral Norte! Coisa que nunca mais aconteceu!

                Esteves da Silva, natural do Rio de Janeiro (1848), logo após a sua formatura mudou-se para Ubatuba. Aqui fundou a escola noturna do Ateneu Ubatubense, onde até recentemente funcionou a Câmara Municipal. Também foi sua iniciativa o nosso primeiro jornal, o Echo Ubatubense. Foi pena ter falecido tão cedo: em 1901.

                Quem quiser mais detalhes de suas atuações e de seu trabalho na área da medicina deve ler o livro de Félix Guisard Filho – Achegas à história do litoral paulista.  Sabe onde tem? Na Biblioteca Pública, na mesma praça onde funcionou por longas décadas o Posto de Puericultura. A propósito, não acha que tal prédio, "Posto de Saúde" deveria ter um destino mais nobre? Que tal fazer uma consulta à população nesse assunto?

                

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

SE ORGANIZAR É RESISTIR




     No Blog do Peter (canoadepau.blogspot.com), escolhi o mapa da proposta de zoneamento do pessoal da Praia da Enseada, onde podemos localizar as diversas zonas de interesse pesqueiro, maricultura, bancos naturais de mexilhão, trilhas na mata, recifes artificiais marinhos (poita dos meros). O Mapa é baseado nas regras tácitas tradicionais locais que integram: 

1- os pesqueiros tradicionais, pedra da laje, pedra rachada, figueirinha, porto velho, poço fundo (castelinho), saco grande (todo, cerco flutuante), após o calhéu (pedra redonda) zona mista exceto arpoador, saco do arpoador, até saco do soldado (zona de influência do cerco flutuante da ponta do espia); 

2- com a maricultura familiar artesanal de baixo impacto em áreas de 2.000 m2. (dois mil).


       Já o primeiro desenho eu fiz para uma proposta visando a recuperação da fauna marinha, sobretudo dos peixes, na Baía de Ubatuba (desde a Praia do Cedro até a Ponta da Mãe Maria). Já faz um certo tempo isso, mas se destinava aos pescadores e suas entidades representativas. Porém, penso como o Peter e muitos outros: se organizar é resistir (para viver mais e melhor).

              
          Eu acredito que é possível e viável reservar toda essa área (da Baía de Ubatuba) para a pesca artesanal, onde as estrelas da navegação seriam as canoas caiçaras. Pelo que vi, os parceiros da Enseada pensam nessa direção. Quem ganha com isso é todo mundo, principalmente a cidade através da sustentabilidade e da preservação ambiental.

              Imagine tudo repleto de parcéis artificiais! Em pouco tempo até o bagre-urutu do finado Maneco Hilário apareceria novamente!
       
               A pesca esportiva faria sucesso, muitos remadores apareceriam, a arte de fazer canoa caiçara se reergueria. E que tal resgatar as costumeiras regatas de canoas e as grandes provas natatórias?

terça-feira, 8 de outubro de 2013

ESPAÇOS MUSEOLÓGICOS

Obelisco: obra  de 1937. Olhem a beleza do casario do entorno!


                Quem anda pela cidade de Ubatuba, ou por qualquer  outra cidade, sempre  tem a atenção inclinada para algo singular, quer saber mais, admira traços, cores etc.  Portanto, a cidade está repleta de espaços museológicos já evidentes.  Outros podem ser criados e/ou fomentados.

             Em relação à nossa  cidade, começando pela boca-da-barra do Rio Grande, o denominado Ubatuba  (muitas ubás) pelos tupinambás, me pergunto se existe muita gente que poderia ajudar, sobretudo os migrantes e  turistas, a um retorno no tempo para vislumbrar os indígenas fisgando peixes, caçando, produzindo uma cerâmica básica, coletando nas matas e costeiras, se divertindo nas areias da Praia de Iperoig até a intromissão do explorador português. E, a partir desse mesmo local, que tal imaginar, com astúcia jesuítica, a Traição de Iperoig, mais conhecido como o primeiro “tratado de paz do continente americano”, cuja comemoração ocorre sempre no dia catorze de setembro, com o Dia da Paz de Iperoig ou da Exaltação da Santa Cruz?

            Na Ilha dos Pescadores, admirando o colorido das pequenas embarcações pesqueiras, convém explicar o nosso passado, cujo destaque foi  ter sido um porto exportador  (da produção local, do Vale do Paraíba e do Sul de Minas).  Dali se avista o maltratado Casarão  do Porto. Ele está de pé atestando a opulência do século XIX, quando  o café era a principal riqueza. Além dele, tivemos outros produtos geradores de dinheiro. Exemplos: farinha de mandioca, aguardente,  peixe seco, banana, anis, arroz, granito verde, madeira etc. etc. etc... A atividade pesqueira também já teve seu auge. Por isso que, em 1937, nessa ilha de exuberante mangue, foi instituída a Feitoria de Pesca, sob a liderança do professor Teodorico Coutinho. Ah! Já que estamos falando disso, não podemos nos esquecer que, lá no “Caisão”, há décadas, funciona o Instituto de Pesca, um importante centro de pesquisa marinha, de pesca e de outras possibilidades garantidas pelo imenso mar.  Nesse mesmo assunto, quem  desconhece que, na Praia do Lamberto, entre as praias Brava (do Hermínio) e o Saco da Ribeira, se localiza a Base Norte do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo?


             É isso! Nunca é demais saber um pouco de nossa história. Conforme já disse alguém: “Não deveríamos ter de aprender de novo cada habilidade a cada nova geração”.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

VALEU, MEU SENHOR!


 



 Foram se as flores...
Ficaram as satisfações.

Os nossos olhos contemplaram,
Muita gente parou
E registrou.

“É piúva!” disse o João.
Assim se chama o ipê
Na linguagem caiçara.

Agora...
Varre, Cláudio!
          
Valeu, meu senhor!

sábado, 5 de outubro de 2013

AMIGOS E LEITORES

Flor do Japão (Arquivo JRS)

               Ontem, às pressas, sai para um compromisso a convite da amiga Lourdes Moreira: um sarau de abertura do concurso de poesia de Ubatuba. Lá, na Biblioteca Municipal, encontrei muitos amigos, inclusive leitores das coisas de caiçara que eu me atrevo a escrever. Uma dessas pessoas era a Ana Maria, cuja família eu conheci morando na beira do mar, na Prainha do Padre (ou do Matarazzo). 


     A Ana expressou um desejo: conhecer a Flor do Japão. Então, aproveitando desta semana que elas desabrocharam, lhes apresento. 

     A Flor do Japão sai da terra maravilhosa e cheirosa. Em outros lugares é conhecida como Flor da Ressurreição. Elas abundavam no terreiro da vovó Eugênia. Eis a explicação dos caiçaras daquele tempo: "O Japão é do outro lado da Terra, de onde vieram os japoneses. É por isso que se chama Flor do Japão essa flor que se abre de dentro da terra. Vem do lugar deles".

      A todo instante tinha alguém agachado para sentir mais de perto o seu aroma adocicado. Maravilha de outros tempos que eu cultivo sem nenhum esforço!

      Um outro lugar que, nessa época do ano ficava roxo, branco e perfumado era do Toninho Nicodemos, no Sertão do Ingá. Conhecendo ele e o irmão Mané, ambos tranquilos eternamente, creio que por lá as coisas continuam muito igual. Até imagino o perfume inebriante com tantas flores naquele terreiro tão bem cuidado. Ah! Recomendo os doces caseiros produzidos pelo Mané! Deliciosos!!!

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

MOMENTO DE REGISTRO


Vaso de avenca (Arquivo JRS)

           
          Hoje, após uns dias de chuva, amanheceu na característica bem dessa época (de primavera), com passarinhos em algazarra, nos mais variados sons.
           Sem ainda dar uma olhada  na “cara do tempo”, acredito que o sol vai aparecer e ajudar na secagem de uma “pilha de roupa” na varanda.
                Um galo cantou bem longe. 
       A corruíra está próxima, mandando a sua mensagem alvoroçada do vaso onde a avenca se esparrama bem verdinha. 
               Sanhaços fazem festa na palmeira, rente ao muro. 
          A melodia de sabiá-laranjeira vem da parte de trás do quintal, onde o cachorro, agora cansado da vigília da madrugada, está enroladinho no seu cantinho. 
         Ao longe, alguém da vizinhança ouve o rádio. O ritmo é sertanejo.
        Penso, escrevo, penso... E assim me fui entretendo nesse ouvir, imaginar e interpretar. Não demorou nada para as interferências cessarem e eu ser envolvido apenas pelo silêncio solitário de querer registrar esse momento.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

LOURENÇO DA ILHA

              
Sabiá-coleira no quintal  (Arquivo JRS)
                         Cheguei agora da rua. Vim de ônibus conversando com o Toninho do tio Mané Pequeno. Escutei boas histórias desse caiçara que se aproxima dos oitenta anos. Acho que posso tornar a editar o seguinte texto.

            Atualmente, olhando alguns poucos jovens caiçaras soberbos, dissimulados, fúteis, petulantes etc., fico pensando em detalhes passados desse meu povo. Desde o ano passado, por exemplo, classifiquei desse modo alguns descendentes do finado Lourenço da Ilha

                O caiçara Lourenço da Ilha era ilhéu do Mar Virado até o início do século XX. Porém, mudou-se com a família para a praia da Caçandoca devido as melhores condições de acesso e de produção. Também considerou a necessidade cultural. Afinal, na costa havia mais festas, mais rituais religiosos e mais gente, inclusive parentes. De lá, após a abertura da estrada para Caraguatatuba e o advento do turismo, os seus descendentes se deslocaram para o bairro da Estufa e outros lugares mais próximos do centro da cidade de Ubatuba. E, - lógico! -  continuaram a se reproduzir.

                Hoje, olhando silenciosamente para esses jovens tão distantes, mas próximos do Lourenço da Ilha, penso: será que ao menos sabem que algumas de suas raízes estão no nem tão distante Lourenço, um homem que foi capaz de criar para si uma segunda natureza: de viver fora da ilha? Ainda bem que, dessa mesma descendência, há vários atuando na recuperação da dignidade caiçara! A eles dou os meus parabéns!

terça-feira, 1 de outubro de 2013

ORQUÍDEAS

Olha ela aí, Chico! (Arquivo JRS)

Agora, como quem não quer nada, dos lugares mais recônditos do meu quintal vai surgindo surpresa. No final de semana passada, entre as folhagens, eis que um amarelo se destaca. É a singela florada de uma orquídea por nome de Índia.

Índia é a denominação dada pelo compadre Chico Lopes. Foi ele quem me deu essa maravilhosa planta, há quase vinte anos. Ainda me lembro bem, como se fosse agora: ele foi até a ameixeira, na porta da cozinha, desgrudou uma parte viçosa, colocou num saquinho e disse: “Toma, compadre. O nome dela é Índia. Não sei o nome científico. Só sei que é muito bonita”. 

Assim, quase todas as orquídeas têm seus nomes de origem. Trazem nisso a sua história particular; lembram momentos e pessoas queridas.

Foi a vovó Martinha quem me conduziu para a apreciação das espécies existentes em nossas matas. Desde pequeno, vivendo na Praia do Sapê, era comum excursionar com ela pela Queimada em busca de orquídeas. “Zezinho, daqui a pouco, logo depois de almoço, nós vamos catar parasita na Queimada”.

O que os caiçaras do Sapê chamam de Queimada é um lugar único em Ubatuba, pois se formou a partir de um alongado banco de areia entre a vargem e o mar, desde o Porto da Cruz até o Pontal da Lagoinha. Quantas frutas nós coletamos ali!

Na Queimada era abrigada a mata do jundu do Sapê, cuja característica principal é de árvores baixas (araçás, goiabeiras...), manacarus e muito musgo a forrar o solo arenoso de milhares de anos. Por ter muitas espécies com cascas gretadas, é grande a variedade de caraguatás e de orquídeas, mais comumente conhecida pelos antigos por parasita. “Essa é chifre-de-veado. Aquela é rabo-de-rato. Chuva-de-ouro é a que mais tem”.

Da Queimada original quase não restou nada. Tudo foi tomado pelos loteamentos. Também teve um tempo em que empresários da terraplanagem retiraram muita areia daquele lugar. Ganharam dinheiro... detonaram o local.

Na Queimada também tinha lagoas, onde as aves migratórias faziam suas paradas e chamavam a nossa atenção. Hoje não sei onde descansam porque esses lugares foram aterrados, ganharam edifícios. Acho que elas nem passam mais por nossa cidade. Outras coisas fornecida pelas lagoas: peixes, cágados, caxeta, taboa e junco (para tranças e chapéu). Quantas vezes esses lugares nos socorreu com seus recursos, com sua diversidade!?!