quinta-feira, 17 de outubro de 2013

DIA DE ANDAR


Mamão de macaco, jequiriti e.... (Arquivo JRS)
          Seja bem-vinda Emanuella Fênix!

O que as pessoas chamam de trilha pode ser uma estrada ou uma picada por entre a mata. Eu ainda prefiro chamar de Caminho de Servidão. De vez em quando faço as minhas caminhadas para rever tais caminhos. São as referências mais antigas das rotas caiçaras.

Por esses dias eu refiz a estrada da Ponta Grossa e o  Caminho do Baguari de Fora com algumas pessoas que muito estimo. Passamos por várias casas, verdadeiras mansões, com placas de VENDE-SE. Um dos amigos me ajudou a refletir: “Eles (ricos) se apoderaram de lugares nobres, aterraram, edificaram...Gozaram até. Agora, finda-se o deslumbramento: as coisas se degradam, os miseráveis pedem ou sobrevivem de subempregos, invadem os espaços, tornam-se poluidores evidentes etc...etc...”. Parecem dizer: “Já que o poder público não nos atende mais, não tem mais graça manter esse espaço em Ubatuba”. Em muitos casos o estrago está feito, parecendo impossível reverter alguma coisa. Em outros há desafios. 

Refazer, redescobrir os Caminhos de Servidão (as trilhas dos nossos antigos) parece ser uma atitude importante. Tombá-los garante ao menos duas coisas: o acesso - para todos! -  aos nossos bens culturais (materiais e ambientais) e a certeza de que não construirão em locais de grande importância preservacionista, sobretudo nas costeiras com vegetação tão especial de pindobas, brejaúbas, embiruçus, manacarus etc. Neste sentido, chegando no rancho do Baguari de Fora, o Luiz, que se encontrava por ali remendando rede, me chamou para mostrar um casal de jacuaçu empoleirado numa enorme aroeira, na porta da cozinha. “Sabe por que eles vivem por aqui há mais de três anos? É porque em outros lugares não tem mais comida, as fruteiras foram cortadas, tem gente que caça...Aqui eles estão bem. Só tomam cuidado com o cachorro que costuma dar uns pegas”.

Eu não preciso de nenhum apoio oficial para fazer tal atividade, mas os Caminhos precisam ser oficializados, defendidos por leis. Caso contrário, eles serão arbitrariamente obstruídos, indevidamente ocupados por mansões ou por "assentamentos informais". É o que aconteceu com o Caminho das Praias de Fora, depois da Praia da Maria Godói, no condomínio da Ponta das Toninhas, onde a fecharam com uma cerca reforçada de arame que não deixa ninguém passar, conforme já foi denunciado pelo amigo Júlio Mendes. Me parece que o acesso para a Praia da Santa Rita, de acordo com o Marquinhos, vai no mesmo rumo.
Muitas coisas atrai a atenção pelos caminhos de servidão. Ouso pedir que atentem à geologia dos locais (pedras amontoadas, cavas de casas, raízes que seguram tudo, cacos de cerâmicas...). No fundo, eu gostaria de desenterrar, analisar e estudar o material encontrado. Traria luzes a respeito do nosso passado e empolgaria mais os visitantes.

          O turismo de qualidade pode voltar a crescer em nosso município! 
Que legal tentar reconstruir os caminhos por tanto tempo percorrido por nossos antepassados!

Não será, decerto, que retomar os caminhos é voltar a usufruir das dádivas da natureza, de aprender com ela?
Nessa derradeira caminhada (com o Estevan, Jorge e Rafael), além de umas belíssimas sementes pretas, o Luiz disse que o fruto encontrado logo ali, bem cheiroso, é um mamão de macaco. Beleza! Aprendi mais esta! Aprendi mais um monte! Aprecie a fotografia.

Um comentário:

  1. Parabéns pelo postagem e clareza das informações, concordo plenamente com seus apontamentos. abs., Edson Conti - edson.conti@curiosidadesdeubatuba.com.br

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