segunda-feira, 14 de outubro de 2013

ESPAÇOS MUSEOLÓGICOS (III)



                 O texto anterior faz referência ao prédio do nosso antigo posto de saúde, quase sempre despercebido ali na  Praça Treze de Maio.

                Pela sua localização, bem que merecia uma atenção especial, ter uma serventia mais abrangente, onde o maior número de pessoas pudesse crescer através de um apelo cultural. Não sei o que seria, mas não custa parar para refletir. Afinal, o espaço e a obra  têm uma localização privilegiada, um passado a nos revelar histórias de vontade em ver o nosso lugar ser melhor.
           Quanta gente precisou de um bom atendimento nesse lugar?! Quantas pessoas estão vivas graças à intervenções de médicos e enfermeiros que ali se devotaram?!

            Só para recordar......

         Em 1972, numa manhã de outono, quase na hora do almoço, quando morávamos bem perto da praia do Perequê-mirim, a saudosa tia Maria (do tio Bernardino Barreto) chegou em nossa casa. No colo trazia o meu primo, o pequeno Jânio. Era uma visita bem vinda! Afinal, mamãe a adorava!
                Depois de acomodar o bebê numa das camas, a titia foi ajudar a acabar de fazer o almoço. Era tempo de peixe-espada. Só à tarde eles retornariam à praia Brava (da Fortaleza).
                Assim que surgiu uma oportunidade, a titia desabafou:
                - Pois é, Laurentina! Você acredita que o doutor De Luca ficou bravo comigo, mas eu nem sei por qual motivo?
                - Mas tem que ter um motivo. Respondeu a minha mãe.
                - Tem, mas não tem. Foi assim: a enfermeira preencheu um papel e depois me encaminhou para um lugar, à espera do médico. Tinha mais gente: umas dez pessoas esperavam para serem atendidas. Quando chegou a minha vez, ele examinou a criança muito bem, fez algumas perguntas; recomendou que eu o alimentasse com sopinha de inhame uma vez por dia. Até aí tudo bem. De repente, ao pegar a ficha para anotar as suas indicações, o homem ficou vermelho, alterou a voz e começou a dizer quase que desaforos por causa do nome do Jânio. Disse assim: “Onde já se viu dar um nome deste a uma criança! O Jânio foi um traidor do povo! Todos votaram nele. E o que fez o sem-caráter? Abandonou o governo do país etc. etc. etc.!”.
                Muitos mais a tia Maria, filha do Nhonhô Almiro, nos contou naquele dia. Estava indignada com o médico, mas fazer o quê? Só mais tarde, estudando a História do Brasil, eu compreendi melhor as colocações do médico, morador da esquina das ruas Hans Staden com a  Conceição.  Porém, nunca lhe dei razão alguma. Que culpa tinha uma criança por receber um nome de alguém que ele (médico) não admirava? Tenho quase certeza que nem os pais, autênticos caiçaras, isolados das notícias de longe, sabiam muita coisa do personagem Jânio Quadros, o presidente do Brasil que renunciou após alguns meses de governo.
                Já imaginou quantas histórias nos contaria, caso escutasse e falasse, aquele prédio do Posto de Puericultura existente desde o final da década de 1940, na Praça 13 de maio!?
                Finalmente a titia encerrou o assunto assim:
                - Que culpa tem o Jânio?

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