domingo, 28 de agosto de 2022

VEM FUNÇÃO AÍ!

     
Amanheeeeeece!

Artistas da Pedra Branca (Arquivo JRS)


   
   
       Estaremos, logo logo, entrando em setembro, o mês da primavera. No dia 17, conforme o planejado, ocorrerá um movimento na Pedra Branca, lá na Enseada. Está previsto um embarreamento do espaço cultural, do Ponto de Cultura Caiçara.  Ostinho, Roberto Ferrero e mais gente estão empenhados na tarefa. Creio que será um sucesso!

       A programação está assim esquematizada: na parte da manhã tem o trabalho de embarreamento. Coisa linda! Depois do almoço acontecerá as prosas: eu, sob o título Vida e arte pelos caminhos, pretendo falar a respeito das frutas das nossas matas, dos percursos inspiradores e dos materiais aproveitados em meus trabalhos artesanais. Em seguida, Roberto contribuirá com seus conhecimentos tão diversificados, sobretudo como luthier (fazedor de violas, rabecas etc.). Por fim, a tão aguardada fala de Cleide Toledo que responde pela Associação do artesanato do Estado de São Paulo. Após esse momento de "sossegar o facho", como diria a minha saudosa mãe, "acontece a função". Aqui Ostinho é mestre! Estamos ansiosos pela apresentação do pessoal que dança xiba no Prumirim e o grupo animado do Fandango Caiçara.

      Função, para quem é mais novo, era a denominação dos bailes caiçaras. Também se chamava de fandango ou bate-pé. Olympio Mendonça registrou em meados da década de 1970: 

"Nessas eventualidades realizam-se danças de roda e quadrilhas, como a ciranda, a cana verde, a marrafa e a dança de São Gonçalo, e bate-pés, como a xiba, o recortado e o cachorro do mato, enquanto as canoas, os calangos e as marchinhas são dançados pelos pares isolados da roda ou quadra de sapateado". 

        Vamos lá, parentalha! A valorização da nossa cultura caiçara é a nossa principal ferramenta para resistir ao mal que ousa se espalhar na forma de um fermento ruim sobre a nossa Pátria! Como bem diz o primo Ostinho: "Vai ser show!". 

terça-feira, 9 de agosto de 2022

DESABAFO


 

Arte e vida pelos caminhos - Arquivo JRS

     Alguém ontem me parou para discorrer sobre produção agrícola vertical, dizendo como a melhor alternativa para garantir a vida deste tanto de habitantes do planeta. Eu discordei, mas há uma racionalidade. Mas que tipo de razão assim eu poderia apoiar vendo a grande concentração de terras em poucas mãos no Brasil e no mundo? As pequenas propriedades fornecem a maior parte do que nos servem de alimentação sem precisar destruir a natureza. Portanto, por que atacar mais ainda as fontes de matéria não renováveis para verticalizar, para complicar a agricultura? Urgente é a reforma agrária neste país! De repente, quando os galos nem cantavam ainda, eu me deparei com este texto de anos guardado para alguma ocasião. Eis que ela chegou!


Na fila do supermercado o caixa diz a uma senhora idosa que deveria trazer suas próprias sacolas para as compras, uma vez que sacos de plástico não eram amigáveis ao meio ambiente. A senhora pediu desculpas e disse: “Não havia essa onda verde no meu tempo.”  O empregado respondeu: "Esse é exatamente o nosso problema hoje, minha senhora. Sua geração não se preocupou o suficiente com  nosso meio ambiente." "Você está certo", responde a velha senhora, "nossa geração não se preocupou adequadamente com o meio ambiente. Naquela época, as garrafas de leite, garrafas de refrigerante e cerveja eram devolvidos à loja. A loja mandava de volta para a fábrica, onde eram lavadas e esterilizadas antes de cada reuso, e eles, os fabricantes de bebidas, usavam as garrafas, umas tantas outras vezes. Realmente não nos preocupamos com o meio ambiente no nosso tempo. Subíamos as escadas, porque não havia escadas rolantes nas lojas e nos escritórios. Caminhamos até o comércio, ao invés de usar o nosso carro de 300 cavalos de potência a cada vez que precisamos ir a dois quarteirões. Mas você está certo. Nós não nos preocupávamos com o meio ambiente. Até então, as fraldas de bebês eram lavadas, porque não havia fraldas descartáveis. Roupas secas: a secagem era feita por nós mesmos, não nestas máquinas bamboleantes de 220 volts. A energia solar e eólica é que realmente secavam nossas roupas. Os meninos pequenos usavam as roupas que tinham sido de seus irmãos mais velhos, e não roupas sempre novas. Mas é verdade: não havia preocupação com o meio ambiente, naqueles dias. Naquela época só tínhamos somente uma TV ou rádio em casa, e não uma TV em cada quarto. E a TV tinha uma tela do tamanho de um lenço, não um telão do tamanho de um estádio; que depois será descartado como? Na cozinha, tínhamos que bater tudo com as mãos porque não havia máquinas elétricas, que fazem tudo por nós. Quando embalávamos algo um pouco frágil para o correio, usamos jornal amassado para protegê-lo, não plástico bolha ou pellets de plástico que duram cinco séculos para começar a degradar. Naqueles tempos não se usava um motor a gasolina apenas para cortar a grama, era utilizado um cortador de grama que exigia músculos. O exercício era extraordinário, e não precisava ir a uma academia e usar esteiras que também funcionam a eletricidade. Mas você tem razão: não havia naquela época preocupação com o meio ambiente. Bebíamos diretamente da fonte, quando estávamos com sede, em vez de usar copos plásticos e garrafas pet que agora lotam os oceanos. Canetas: recarregávamos com tinta umas tantas vezes ao invés de comprar uma outra. Abandonamos as navalhas, ao invés de jogar fora todos os aparelhos 'descartáveis' e poluentes só porque a lâmina ficou sem corte.

 

Na verdade, tivemos uma onda verde naquela época. Naqueles dias, as pessoas tomavam o bonde ou de ônibus e os meninos iam em suas bicicletas ou a pé para a escola, ao invés de usar a mãe como um serviço de táxi 24 horas. Tínhamos só  uma tomada em cada quarto, e não um quadro de tomadas em cada parede para alimentar uma dúzia de aparelhos. E nós não precisávamos de um GPS para receber sinais de satélites a milhas de distância no espaço, só para encontrar a pizzaria mais próxima."

 

Então, não é risível que a atual geração fale tanto em meio ambiente, mas não quer abrir mão de nada e não pensa em viver um pouco como na minha época?  

Em tempo: desconheço a autoria deste significativo texto para reflexão deste momento de onda consumista tão exagerada.

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

UMA HISTORIA LINDA DE MORRER

Seo Antônio e Dona Benedita - Arquivo Rê
  

UMA HISTÓRIA LINDA DE MORRER

      Hoje arranjei um tempo, bem cedinho, para fazer esta postagem da amiga Regina, um emocionante texto por ocasião do falecimento do Tio Vitinho há poucos dias, em 21/7.

      Victor Fernandes da Silva (1936 – 2022), filho de  Seo  Antônio e Dona Benedita e irmão de Ana Maria e Odette (mãe da Rê), uma querida família migrante que abraçou Ubatuba desde o ano de 1959, se aposentou, após 37 anos de serviços prestados ao Estado. Foi um dos funcionários do DER que trabalhou na rodovia entre Ubatuba e Taubaté, porém nunca passou um dia sem se envolver em alguma atividade. Agora nos deixou.

   Quem eram Seo Antônio e Dona Benedita? Os pais de  Odette, Victor e Ana Maria, avós da Rê e de mais gente que nos honra exercitando a cidadania! Somente os caiçaras mais antigos se lembrarão daquele casal que morava na Prainha do Padre (ou do Matarazzo). Com eles eu tive o privilégio de tomar café algumas vezes e escutar suas histórias. Outro dia a gente fala mais dessa gente humilde e valorosa que contribui ainda hoje por intermédio de seus descendentes. Mas vamos ao texto!

 

Uma história linda de morrer

Um título intrigante, de um dos livros da Dra. Ana Cláudia Arantes  que  peço licença para utilizá-lo nesse pequeno depoimento.

 

Sim, já vinha me preparando para esse momento de partida, despedida, passagem de vida por assim dizer, mas vivi nessas últimas oito horas na manhã do dia 21 de julho de 2021, uma experiência como nenhuma outra.

Por dias aguentei firme sem derrubar se quer uma lágrima, insensibilidade minha? Jamais! Empatia? Não senão não conseguiria ajudá-lo. Compaixão?  sim. Pois esse sentimento nos permite ser útil na medida do possível. Mas quando o vi lutando de forma serena ainda que ofegante para encontrar forças sabe lá Deus de onde para continuar apenas respirando, pedi licença, me retirei e, confesso,  caí em pranto de um jeito que pude sentir meu coração naquele momento se derretendo em lágrimas. Então  deixei vir tudo o que estava guardado por dentro e por e fora. Depois respirei bem fundo por alguns minutos para tentar me recompor e voltei ao seu lado da minha mãe, tia e primas.

Quanta coragem presente naquele corpo já entregue a Deus, naquele corpo tão fragilizado por fora e tão doente por dentro. Ele dizia que já não sentia mais dor  nas últimas 24h, apenas  dizia que estava muito cansado... também pudera, pois cada vez que deitado pedia para senta-se,  tenho certeza que por estar já há dias sem comer ou beber,  era como se ele gastasse ali as poucas energias que ainda lhe restava. Ofegante, muito ofegante ele repetia: “Ai.... tô muito cansado....muito cansado...”. E sua respiração ficava cada vez mais curta... Mas em nenhum momento chegou a dizer " Meu Deus me leva! " . Que lição de vida ele me deixou! Obrigada! Porque você não me deu trabalho algum tio.

(Pausa....) Minhas lágrimas recomeçaram, pois ele esperou seu momento chegar, sem desespero algum,  aceitando todo o carinho, através do toque das nossas mãos, dos olhares  das cinco mulheres que se fizeram presente nessas últimas horas de sua vida. Suas duas irmãs a mais velha e a caçula e as três sobrinhas que lhe cercavam com abraços, beijos, carícias e uma enorme força espiritual do desejo que tínhamos  de não ter que vê-lo   fazendo tamanho esforço. Nosso desejo era o de poder oferecer-lhe um final com muita dignidade e respeito, o respeito que todo ser humano merece nesse momento.

Quanta presença de Deus pude sentir estando na presença dele. Seu silêncio se juntou ao nosso silêncio. Sua dor também foi a nossa dor e sua serenidade foi a mais impressionante que já vi e vivi na vida.

Antes que o levassem,  o abraçamos dizendo o quanto o amávamos. Tocávamos aquele corpo  tão seco e de tão magro que estava,  pois estava muito desidratado,  um  corpo que em vida quase não pode sentir o toque das mãos das pessoas por ser  ele uma pessoa  tão tímida, tão  reservada, muito embora gostasse de brincar com a gente as vezes.

Uma de suas sobrinhas ainda conseguiu lhe tirar um pequeno e tímido sorriso quando disse que ele tinha covinha no rosto. E foi  assim,  então, que aquele semblante deixou em nós a certeza de alguém que se fora em Paz e a certeza de alguém que foi muito amado pelas pessoas mais importantes de sua linda trajetória de vida. Esteja com os anjos a lhe rodear.

Se estamos fortes nesse momento, acreditem essa força não é nossa.

Valeu, Rê!


terça-feira, 2 de agosto de 2022

MULHERES VITORIOSAS

Raquel, Sônia e Regina - Arquivo Rê

Uma pose com o Cacique Altino - Arquivo Rê


No dia 16 de junho, há duas semanas, a líder indígena Sônia Guajajara esteve na aldeia Renascer, no bairro do Corcovado (Ubatuba). A nossa estimada Regina, após a visita, produziu este texto que merece ser conhecido e refletido por mais gente. Olhando a imagem, penso: "Mulheres resistentes e representantes de tantas vitórias e inúmeras perseguições ao longo da nossa história. Só por isso já são vitoriosas!". Gratidão, Rê.

Uma manhã mais que diferente, uma vivência junto a essa gente que tem tanto a nos ensinar com sua Espiritualidade, ancestralidade, sua Cultura.

Sua língua, a qual deveria ser ensinada em nossas escolas como uma das línguas mais importante, são cheias de significados riquíssimos,  sem contar nas palavras que já utilizamos sem sequer saber que é quase tudo Tupi.
Seu modo de plantar e de colher, de dividir o que tem, a coletividade que eles vivem, mas que passa longe de quem não sabe tamanha importância .

Seu modo de viver a vida, a espontaneidade dos curumins, a força, a alegria presente no rosto dos homens das mulheres, dos jovens quando parecem ver que tudo caminha em harmonia entre eles.

Mas, infelizmente, há quem pense ou acredite fortemente que são eles –  os indígenas-, o grande “perigo” da nossa sociedade.  Fingem não querer saber que o maior e grande perigo mesmo, são aqueles que não apoiam a causa indígena e não Respeitam a Mãe Natureza como nossa Mãe, Nossa Casa, um paraíso deixado por Nhanderuvuçu com direito a tudo para que pudéssemos apenas agradecer, desfrutar, cuidar e dar a continuidade da semente. Mas, infelizmente,  o que há anos presenciamos,  é pra lá de triste, é a natureza sendo desmatada, devastada, dilacerada a cada dia pelo mão do homem, que não dá mesmo pra ser considerado como um Ser Humano. Se entendéssemos que “Apoiar a causa indígena é apoiar a nossa própria existência” como diz Sônia Guajajara, uma das grandes líderes indigenista, mulher que se faz presente na vida hoje desses povos, não veríamos tanto desmatamento, descuidados e (des) envolvimento tirando a vida daqueles que deveríamos ter como irmãos.

Se você puder ao menos apoie essa causa porque antes de tudo ela é Nossa Também!