segunda-feira, 24 de setembro de 2012

MAS HÁ TAMBÉM FLORES!


Uma orelha-de-burro, lembrança da vó Martinha e da Queimada (Sapê)
A minha jabuticabeira
Um maravilhoso ipê espremido no centro da cidade de Ubatuba (Rua Maranhão)
                Pense em todas as maravilhas do mundo. Agradeça por elas terem passado os tempos e as pessoas e nos alcançado na história, independente do lugar de onde viemos.

                O desafio de hoje é pensar em nós e nas futuras gerações. Sobretudo nelas! Terão flores na profusão que temos? Terão os monumentos naturais e culturais que tanto nos satisfazem? Terão vida em abundância?

                O que me preocupa são as transformações que desestruturam a vida humana e as vidas interdependentes nos diversos ambientes do planeta.  No caso dos moradores tradicionais de Ubatuba, a partir da especulação imobiliária, ao perder a posse da terra e o acesso ao mar, ao tentar apagar a memória caiçara, foi-se gerando algumas situações que geraram as crises da atualidade. Junte-se a isso as migrações desenraizadas fazendo de tudo para a sobrevivência e às necessidade capitalistas, onde o ter supera o ser.

                Hoje, após visitar recentemente as ruínas desprezadas das Galhetas e da Lagoa, de me preocupar em ter algumas áreas como reservas caiçaras visando a preservação às futuras gerações, transcrevo um depoimento colhido pelo Domingos a respeito dos últimos caiçaras da Caçandoca, quando até as ruínas da fazenda foram destruídas pela Construtora Continental visando a construção de um condomínio de alto padrão. Quem nos fala é Brás de Oliveira, filho do tio Roque:

                “Foi em 1975 que aconteceu isso. A última revolução mesmo! Os caras chegaram lá, colocaram a gente no caminhão de mudança e foram expulsando o povo. Tinha que sair na hora e já começaram a largar fogo nas casas. Inclusive quando a gente desceu lá do sertão [da Caçandoca] e passou no Benedito Domingos, no Leocádio, aquelas casas já estavam todas queimando. Já estavam andando... pra onde? Não tinha para onde a gente ir. Aí a gente veio para o Perequê-mirim, pra casa do meu cunhado João da Mata. Ele já tinha saído fazia um tempinho. Foi onde a gente se instalou. Foi ali. Sem dinheiro, sem nada, ficamos na casa dele dois ou três anos, até a gente fazer um barraquinho.

                Nessa altura a máquina já tinha jogado o sobrado, já tinha jogado lá na Caçandoquinha, jogaram aquelas coisas da escravidão tudo lá. Eu ainda vi isso aí, jogaram aquelas lapadas de pedra. As paredes eram de uns oitenta centímetros de largura”.

                Hoje, ao me deslumbrar com alguns espetáculos no meu entorno, penso nos sofrimentos, nos momentos angustiantes que são frutos da cobiça e da maldade de muitos. Se serve de consolo... As tais situações continuarão, mas há também flores! Não deixe de percebê-las.

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