sábado, 1 de setembro de 2012

ACIDENTE NO MAR



O homem de cabeça branca e as ostras da costeira do Acarau.

                De vez em quando acontece acidente no mar. E dos graves!

                Em junho de 2003, em São Sebastião, num acidente com um navio petroleiro, milhares de litros de óleo foram parar no mar. Causaram um estrago danado!

                Quando o assunto é preservação ambiental, dificilmente ocorre outra reflexão que subjaz dentro deste tema, ou seja, em torno dos autores da preservação. Melhor dizendo: se preocupam – justamente! -  pelos seres marinhos, aves conjunto de ecossistemas etc., mas se omitem a respeito dos seres humanos que dependem diretamente desta natureza,  que aprenderam a conservá-la por sua função vital que gerou uma simbiose secular, milenar, sei lá o que mais.

                Não tenho nenhum receio em dizer que se deve muito ao caiçara pelo bom estado de conservação da natureza. O nosso entorno, que atrai tantos turistas e investimentos, está ainda em estado razoável porque existe – ainda! – uma cultura a viver em interdependência com o meio circundante.  Assim, neste espaço geográfico, homem, mato, mar, rio e demais seres se completam. Os desvios perversos encontrados são, parafraseando o autor evangélico, “sementes de joio que o inimigo espalhou na plantação de trigo”. É gente sem escrúpulos, traidores de uma tradição cultural que se pauta pela conservação ambiental. Afinal, dela depende a vida de todos!

                Por ocasião daquele acidente, fiz a seguinte pergunta:

                Quem vai indenizar os pescadores pelos estragos nas costeiras, nas praias e no mar?

                Certamente que, ao afetar toda a cadeia alimentar, também causaria desequilíbrio na sobrevivência de muitas famílias caiçaras que possuem laços estreitos com o mar.

                Pensei em tudo isso porque é a minha convicção: as comunidades tradicionais devem estar conscientes de seus direitos e de seus deveres. Em casos similares, ou em outro acidente  mais pavoroso, os responsáveis devem ser acionados para um desembolso regular até o restabelecimento das condições naturais. As costeiras devem ficar limpas de qualquer material estranho que perturbem tudo aquilo que delas dependem. As empresas envolvidas direta ou indiretamente com os sinistros devem financiar projetos dos grupos organizados e apoiar a Colônia de Pesca em seus esforços para abrandar os prejuízos causados aos trabalhadores do mar.

                Por isso é importante um cadastro municipal do número de pessoas em conexão direta às atividades econômicas ligadas ao mar. Inúmeras são elas: pescador, mitilicultor, aquicultor, coletor de limo, mariscador etc. Eles estão espalhados desde as Galhetas, na divisa com o município de Caraguatatuba, até o Camburi, fronteira com o Estado do Rio de Janeiro.

                Não foi a primeira e nem a última vez que Ubatuba foi afetada por um vazamento de óleo, devido à nossa localização próxima do porto de São Sebastião. Qualquer praiano já testemunhou “tapete  de pixe” em nossas praias, já teve que recorrer ao querosene para remover as resistentes  manchas pretas, sobretudo dos pés. Se alguém perguntar aos moradores mais antigos da praia do Puruba a respeito do sumiço das grandes ostras de seus rios, a resposta será uma só: “Foi depois de uma maré de óleo que isso aconteceu; ela invadiu tudo e depois disso ficamos nesse estado, nunca mais voltou a ser como era”.
               Agora, com a ativação da extração de petróleo tão próxima de nós, as coisas podem se complicar.

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