quinta-feira, 7 de abril de 2011

Que bolo!

        
         O meu tio Genésio adorava festas.  Por isso, num certo período, aos domingos havia matinê em sua casa. Eram animados bailes na modesta sala da sua casa, logo acima da linha do jundu, na praia da Fortaleza. Ali se constituía um ponto de encontro da moçada, mas havia também vários adultos que adoravam dançar.  Só para dar alguns exemplos: meu avô Armiro,  o Cândido, a Judite...Ah! Ia me esquecendo do tio Maneco! Este “farejava função de longe”, ou seja, se perdesse qualquer ajuntamento festivo, até ficava doente.
         Num desses domingos foi dia do seu aniversário. Ao passar na casa da filha, esta lhe presenteou com um bolo bonito e aparentemente saboroso. O tio Maneco agradeceu dizendo que levaria para casa para comer com a tia Aninha.
         No caminho, bem no meio do caminho, não “tinha uma pedra”, mas era preciso passar ao lado da moradia do tio Genésio, onde as pessoas já sacudiam os esqueletos na maior empolgação. Ele não resistiu! Pediu que a tia Maria guardasse aquele bolo especial só pelo tempo de algumas rodadas. E foi todo animado para a sala.
         O Cândido e o vô Armiro assim que viram o valioso bolo tiveram a ideia de uma arte. Foram até uma rede (mantida pela prima Neide como enfeite na sala, onde tinha de tudo: siri, peixe, conchas, escamas, sapo seco etc. ), pegaram um dos  sapos secos, foram até onde estava o bolo, cortaram pela metade e colocaram lá dentro o sapo.
         Após satisfazer o desejo de dançar com a meninada, tio Maneco pegou o bolo sem desconfiar de nada e foi para casa. Pretendia tomar café com o bolo preparado com tanto carinho pela filha Nélia. Foi chegando e perguntado:
         - O café está pronto, Ana?
         A tia Ana confirmou já com a mesa posta, tendo inclusive beijus. Ao passar a faca para  fatiar o bolo, ele descobriu o sapo. Na hora deu um salto e esconjurou:
         - Nem ponha a mão, Ana! É macumba feita! Algum inimigo se aproveitou do presente da nossa filha e fez este trabalho! Enterre tudo porque nem nós e nenhuma criação pode comer!
         Assim foi o fim de um bolo feito com tanto carinho. Ah!!! Esses caiçaras arteiros!!!

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