domingo, 17 de abril de 2011

Mané Hilário (Parte 6)



Júlio: O senhor podia contar a história da caranha pra nós?
M.H.: Eu tava facheando mesmo, no rio. Eu co’Arfredo Mariano. Aí eu gritei pro Arfredo: “Oh, Arfredo, uma enorme caranha! Porque todo dia nóis achava pedaço de tainha cortada na preia, né? Era ela que comia. E no rio nóis também achava pedaço, mas nóis não sabia o que era. Quando chegô um dia eu tava com nove tainha na canoa, no Perequê-açu, no rio Indaiá, na boca da barra, no começo do rio. Aí eu gritei: “Arfredo, que nobre caranha! É  a tar que anda comendo a tainha aqui!”. Eu tava co’a fisga na canoa e ele remando. E o lampião  na popa da canoa. Era noite; uma nove da noite ou deiz da noite. Aí ele: “Não fisga,  Mané Hilário, que nóis vai alagá!”. “Ah! Não vô dexá de fisga!”.
         Acompanhei e bati a fisga na caranha. E a caranha...brubrubru....tchaaaaaabau. Nóis dois de boca abaixo. Virô a canoa; apagô o lampião; apagô tudo! “Aí? Eu não disse pra você? Eu não disse pra você? Você é teimoso! Agora perdemo a caranha;perdemo o pexe tudo”. De manhã eu fui e peguei as tainha que tava no poço. O siri tava pegando a roê a cauda da tainha. Aí eu embarquei a tainha e vim embora. Quando passô ali uns oito dia ou mais, o Candinho Manduca, que era o meu tio, foi buscá bambu seco pra fazê tinta pra botá na rede: “Mané Hilário, você sabe de uma coisa?”. Até me assustei quando ele falô assim. “O que foi, titio?”.  “A caranha que você fisgô tá encalhada lá em cima no rio. O corvo tá comendo”. Aí fomo lá. O pessoá foi  lá juntá, tirá as escama pra fazê enfeite no Natar, né? Aquelas escama grandona.
         Era uma baita de uma caranha! Pexe pra uns 50 ou 60 quilo. Aí fomo lá e chegamo lá. O bucho da caranha tava amarelado de ova de tainha, rapaz! E perdemo a caranha! Já tinha uns cinco dia ou mais. Ela acompanhou, assim mesmo fisgada, ela acompanhou o cardume de tainha. Lá tinha um poço que nóis chamava “O poço do Florindo”. Então, tinha um canalzinho que, com a maré, enchia. O peixe entrava lá e depois saía. Eu não sei como foi que ela foi pra lá. Maré abaixou; ela não pode saí. Não, ela não tava fisgada! A fisga tinha saído. Pegou na galha rumadera, né? Aqui no lado, onde  ela anada. Pegou...morreu. Uma baita de uma caranha que era um colosso! A escama o pessoá foram buscá lá uma porção. Eu trouxe um bocado e o pessoá tudo foram buscá para fazê enfeite de presépio. Essas coisa, né? Fazia a mordura e enchia de escama. A escama de caranha é bonita.

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