quarta-feira, 27 de abril de 2011

Mané Hilário (Parte 11)


Mané Hilario, o filho: O sabiá era tanto aqui que chegava a matá até com aquela cabeça de ciosa; fazia de pedra. Acabava as pedra da sacola, do bolso, não dava tempo de ir buscar de tanto passarinho que tinha, né? E a gente era moleque, nunca pensava que podia ser barrado por alguém, não tava nem ligando, então... passava o dia caçando de estilingue. Enquanto as pessoa caçava com espingarda, a gente caçava de estilingue, né? Então, cabava a pedra do bolso, pegava e cortava um pedaço de ciosa – aquela cabeça de ciosa – para matar o... pra derrubar o passarinho. Então eu tava contando pro Luís que cheguei a matar de dois, derrubar, de dois numa estilingada só, de tanto que tinha passarinho. Ficava um em cima, outro embaixo, marcava na ponta do bico pra derrubar o outro de cima. Era bom no estilingue, né? Só o Niks quis me enganar; o Niks quis me enganar no quebra-prato. Então... passando para o problema do São Gonçalo, né?, que ontem eu tava lá assistindo a dança do São Gonçalo, na Fundart, aí... Nisso aí há tempo que eu venho falando – não sei se o papai alembra que eu contava sempre isso em casa – que foi lá... um momento, uma coincidência, né?,  que o pessoal lá da roça saía naquela euforia com a festa e tal, levava o santo e não perceberam que... o santo tava na frente e, eu, como sempre, como moleque, andava com um estilingue no bolso, e aí o curiango ficava na frente. O pessoal passou e o curiango tava sempre do lado, então gritava: curiango, curiango... Na frente da gente assim. Aí o que eu fiz: procurava uma pedra... não tinha nada no bolso, né?. Naquela hora vi assim um vulto; assim, uma qualquer coisa no chão, levei a mão, que eu peguei vi que era uma coisa redonda, pensei que era uma pedra. Peguei, coloquei no estilingue e joguei no curiango na frente, né?. Sei que logo bateu; devia ser de barro. Bateu lá na touceira de tucum – aquele coquinho azedo -, que tinha muito no Perequê-açu. Bateu lá que espatifou tudo. Quando chegou lá, na hora da dança, que procura a cabeça do santo, cadê? Logo eu deduzi o que foi que aconteceu: foi o que eu achei no caminho, taquei no passarinho. A cabeça do São Gonçalo que foi no estilingue. Aí improvisaram lá. Como tinha santo também de cabeça quebrada, colocaram o santo lá. Colocaram de cabeça de qualquer jeito e fizeram a dança. Valeu. Mais vale a devoção.

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