domingo, 24 de abril de 2011

Mané Hilário (Parte 10)



Sobre a caça

         Era demais! Era paca, veado, cutia... Era tudo o que eles encontravam com eles, matavam. E não precisava ir lá muito. Porco do mato... Não precisava ir muito longe não! Era aqui perto  mesmo! Um dia, o meu avô, os meus tio, foram trabalhar pro Antonio de Lima, pai do finado Tinoca, o  avô  do Antonio Galvão, e saiu uma vara de porco no quintal da casa deles lá. A minha tia, com uma mão-de-pilão, matou dois.  Um bocado entrou dentro do chiqueiro. Aí pegaram a gritar pra ela entrar pra dentro senão o porco pegava ela. Porque o porco do mato é bravo, né? Aí entrou pra dentro. Ela chegou na porta e tocou a corneta. Eles tavam trabalhando pro um senhor na beira do rio. Vieram saber o que era e acharam o estrago porque a porcada saiu no terrero. Tinha doze preso num cercado que eles tinham feito lá. Entraram no cercado. Ela fechô. Perdeu uma fornada de farinha por causa da porcada. E  eles vieram e mataram todos os doze porcos, com três que ela tinha matado com a mão-de-pilão... E a minha tia Olívia morreu com cento e doze anos. “Olivia, sai daí que o porco te mata, te morde. Sai daí Olívia”.  E ela: brau, brau, uóóó...Com a mão-de-pilão matou dois. E eles então vieram e mataram doze que tavam preso num curral que fizeram lá. Dividiram porco com aquela vizinhança tudo. Isso foi lá na olaria, no meu terreno. Lá onde tem a escola [Dionísia, no Perequê-açu].

Sobre as caçadas

         Os avô ia. Era o Gustinho, o Pedro Graciano e o Jacinto, os três irmãos, faziam, tem o nome lá... Fojo, lá eles faziam o fojo, faziam aquele buracão, pegavam a terra, botavam numa lata ou num saco e levavam uma distância longe do fojo, que era pra anta não desconfiá, né? E faziam... a anta. Quando chegava num fim de semana iam lá pra visitá. Tinha os dia marcado pra visita, né? Pegavam aquela anta, tiravam o couro, aproveitava aquela carne toda e repartia com os vizinho. Naquele tempo não havia proibição de nada, né? Um dia tava dentro do fojo tinha treze porcos dentro do buraco. Não tinha anta, mas dizem que o porco do mato anda em camada, um na escadeira do outro, né? Foi só debulhando. Naquele tempo a fartura... Matei muito macuco, jacutinga, jacu. Não fartava nada, não fartava. Quem gostava de caça era o Jango Teixeira, Rodolfo Ignácio, Mané Hilário, Paulo Batista, o Mané Fonseca, o Egídio, o Samué, irmão, que eram parente do Constante Simonete, o João Bordini. Mas esse, assim que nem João Bordini e outros, gostavam de caça, mas não entravam no mato pra caçá. Mas não deixavam de não matá arguma coisa, né? E, uma ocasião, foi sabiá preto; era demais, demais. Tinha araçarana no Perequê-açu e na praia Vermelha, da Barra seca; eles iam pra lá e traziam aquela borsada de sabiá. Ficavam embaixo da araçarana... Eu mesmo, no Perequê-açu, de bodoque, nóis tirava sapinhaoá na praia pra fazê pelota. Ele sentava, nem... nem dava bola e, tol, qui, qui, tchabau dentro d’água. E eu pegava dentro d’água. E araponga – daquela rajada! – tinha quantidade. Hoje, quedele? Cabô, não tem mais! Cadê? Nesse mato aqui da aviação, esse um [aponta para o filho] com o irmão, com o Isaías, com o meu filho, matava aquela quantidade. Eu vinha com aquela tranquera de tainha de lá da preia, do Tenório, que matava lá pra casa; chegava em casa já tava aquela panela de passarinho com arroz feita...

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