quarta-feira, 13 de abril de 2011

Mané Hilário (parte 4)


Sobre a fartura de peixe.
         O pexe em Ubatuba a gente pedia pros consumidores pra compra pra pagá quando pudesse. Os pexe era demais. Era fartura, tinha demais. A gente vinha vendê o pexe; o que sobrava, a gente quando não dava, vortava com ele pra casa pra escalá. Quando tinha gente que queria, a gente dava, a gente trocava. Naquele tempo, no Perequê-açu, não havia muita casa. Aqueles que não tinha cana pro café trocava aquele fexe de cana por um pexe e levavam embora. Faziam a troca.
         A tainha era demais. Era trezentos mil-réis o mil. Uma tainha de duzentos réis, um tostão que a gente vendia... Escolhida a tainha grande de ova pra vendê, né? Que nem a sardinha. Sardinha era mil e duzentos o mil. Sardinha galhuda! Não dessas que vende hoje!  Sardinha galhuda que nóis chamamo, né? Porque tem trêis espécie de sardinha. Aquela tranqueira de pexe que a gente vendia tudo na beira do mar. A pesca era do corrê do cais pra dentro; tudo quanto era pexe: espada, corovina, goete, pescada... Era tudo quanto era pexe!
         Nossa mãe! Na puxada de rede na preia você  não podia tirá de dentro d’água, na preia puxá! Quando a rede vinha num cabo por banda, você não podia puxá a redada. O redero, o prático dizia: “Aí vem coisa, no tempo da lula, no centro da rede” Perguntavam: “O quê, titio?”. “A correnteza que a rede vem trazendo é pexe!”. Quando chegava na beira da preia, às veiz não andava; encalhava. Era bagre urutu, era pescada amarela, pescada bicuda que nóis chamava, era pescada branca, obeba, gordinho... Eu com um primo-irmão, o Antonio Joaquim, que nóis chamava de Timbango, nóis dois sozinho, com Deus em primeiro lugá, demo uma redada de obeba, matamo seis mil, não pudemo alá a rede. Eu disse: “Antonio, ponha a rede num lado e de outro, vire as costas e não olhe para tráiz do que sai. Deixe que saia o que quisé saí”. Empatolemo a tralha da cortiça e do chumbo e fizemo força.  Que nada de rede vim! Era só obeba! Cada uma assim!

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