sábado, 9 de abril de 2011

Memória caiçara (I): Manoel Hilário

                 
         No dia 25 de maio de 2002, no final do serão, eu, Gláucia e Júlio nos encontramos na casa do Mané Hilário para escutá-lo. O resultado é este texto que será apresentado em partes. Deste, com alguns arranjos do Júlio, foi gerado o material publicado pela NUPAUB (USP) no volume 4 da Enciclopédia Caiçara. Outros dois artigos de ubatubanos estão lá (Confira: Domingos Fábio dos Santos e Gilberto Chiéus).
        
Introdução:
         Na véspera desta entrevista aconteceu uma exibição, pelo pessoal do Prumirim, uma dança de São Gonçalo, no casarão da Fundart. O seo Mané Hilário está fazendo os seus comentários, inclusive de outras danças e devoções que já são quase desaparecidas. A sua fala é entrecortada de gestos que, ora complementam o tema, ora é o próprio, isto é, não tem palavras que os expliquem. Em tempo: assim que iniciamos a conversa, chegou o filho do entrevistado, o Hilário Filho, que muito colaborou com o “produto final”.


M.H.: - Tem umas cinco ou seis parte na dança do São Gonçalo antes de começá a misura. Hoje dançaro um bocadinho, fizero um recortado. Eu não entendo, mas os práticos diziam: fazia a misura, tudo direitinhozinho, o derradeiro da fila de dança, de lá do artar ele vinha até cá no fim trêis veiz. Ia lá pra então terminá a dança dele. Era uma coisa bonita, mas hoje... Agora, as mulhé de lá dançaro bem sim; até me fez até lembra meus tempo, aquele tempo passado quando as mulhé tinha experiênça no dança c’os homi e fazia aquele recorte assim, coisa bem feitinha, mulher, né? Cadê o chiba? Acabô a dança do chiba que nóis dançava. Pegava a dançá as 8 da noite, ia até as 8 do outro dia. Eu pegava a camisa assim, torcia e caía água no chão. O finado meu sogro, Zé Florêncio, quando ia no chiba, dizia: “Mané Hilário, ocê dança de par comigo aqui”. Nós tudo de tamanco, feito de laranjeira, de canela... Lascava até tamanco, tudo repicadinho, eu... Quando na hora da palma, eu não batia palma, eu acompanhava com o sapateado. Hoje não se sabe nada disso. Começa do violeiro: não sabe aquelas moda antiga, passada, que era bonita... Cabô, não tem nada... Tá tudo mudado.

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