segunda-feira, 4 de abril de 2011

Lembrando o João de Souza (1)

                  (Mentira nada! Pergunte a ele!)

         Certa vez fomos caçar tatu no morro da Praia Dura. Eu e o meu cunhado. Começamos a cavar um tatu às nove horas da noite e só paramos às seis da manhã. Cavamos mais de mil e quinhentos metros e paramos num lugar chamado de Bom Descanso. E não encontramos o bicho. Quando saímos do buraco, fomos ver que o tatu fez um buraco no tronco da figueira e foi lá pra cima. Ficou lá em cima grudado num galho de pau que não havia quem o tirasse”.
         “Quando eu era criança via os caçadores colocando fogo ou água no buraco do tatu a fim de que ele saísse mais rápido. Então tive uma ideia: levei um botijão de gás e um maçarico para o mato. Quando encontrava um buraco com tatu dentro, fechava a boca do buraco com um saco de estopa e soltava o gás dentro do buraco. O tatu sentia o cheiro e saía que nem foguete, indo para no fundo do saco. Deste jeito caçamos um punhado de tatu. Chegamos ao ponto  de só levar para o mato o botijão de gás e o maçarico; nenhuma arma a mais. E lá vinha nós com o saco cheio de tatu”.
         “Um dia o gás acabou. É aí que vale a inteligência e a experiência de um grande caçador. Coloquei o saco bem firme na boca do buraco do tatu e, com todo o meu vozeirão gritei: Oooooooolha o gááááááááááás!!!! O bicho saiu que nem bala de canhão e entrou no saco. Nem vi o tipo de tatu que era. O bicho era pesado. Amarrei a boca do saco e vim embora”.
         “Passando pelo bar do Barriquinha, onde estava acontecendo um bingo beneficente, pediram para mostrar o tatuzão que eu tinha pego. Quando virei o saco de boca para baixo e o bicho caiu no chão, foi um corre-corre desgraçado. O bicho que eu pensava ser um tatu, era um jaracuçu do preto que não tinha mais tamanho. O bicho começou a dar bote e rabada pra tudo quanto era lado. Não ficou um no bingo. Acabou o bingo. Vocês pensa que é mentira? Pergunta a ele!”
         “Esta foi a minha última caçada. Felizmente a caçada hoje está proibida; só assim podemos preservar os nossos animais. Hoje, quando vou levar o meu neto na Fazenda Jundiaquara, e vemos lá os gambás, os caxinguelos, os gaviões, os socós... peço para que Deus os protejam também”.
         “Para os ex-caçadores peço que segurem bem seus sacos porque a cobra pode fugir”.
         “Abraço do amigo João de Souza, o caçador do pé rachado que, se bobeiasse, tava também com o saco rachado. Ubatuba, 26/04/2002”.

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