quarta-feira, 22 de setembro de 2021

A PRAIA DESAPARECIDA

Cadê a praia do Saco da Ribeira?  - Imagem: curiosidadesdeubatuba.com.br 

Praia do Saco da Ribeira, por volta de 1950 - Arquivo Ubatuba 






Saco da Ribeira agora - Arquivo JRS


Saco da Ribeira agora - Arquivo JRS



      "Que maravilha o progresso!", diz o visitante  estupefato no alto da estrada, olhando a extensão toda repleta de embarcações. "Ali em baixo é o Saco da Ribeira; lá longe é a Ilha Anchieta". Não tem como não se admirar diante da paisagem. Porém, tem de saber que o quadro exige um preço, um custo elevado à natureza do entorno, aos pescadores, ao mar e praias etc. Você pode até embarcar numa daquelas lanchas e sair mar afora curtindo a aventura, mas precisa saber que esse progresso chega desrespeitando tudo, poluindo o mar, modificando costeiras para atracadouros particulares e cobrindo praias. Para agravar, empresários imobiliários mobilizam seus recursos e influências políticas para irem além daquilo que já era demais. 


     A praia do Saco da Ribeira, maior abrigo de embarcações em Ubatuba, desperta em mim um mal-estar. Aquele recanto sossegado existente até começo da década de 1980, onde jogávamos bola, juntávamos siris e puxávamos picarés quando crianças, não existe mais. Apenas um cantinho de nada perdura não sei por quanto tempo ainda. Onde ficavam os jiraus de redes, os varais de secagem de peixes e os ranchos de canoas, agora são atracadouros, edifícios prontos ou em construção. Pode construir sobre a areia da praia? Vai continuar até quando?


    No começo da década de 1980,  a sociedade civil organizada conseguiu se mobilizar e barrar um empreendimento franco-árabe que pretendia aterrar parte desse mar, fazer canais para as embarcações caríssimas e edificar condomínios para ricaços. Depois, graças ao poder econômico, quando menos esperávamos, veio aquilo que ali se mostra na atualidade. Ano após ano, compassadamente, reparo em seus tentáculos aumentando. Sinto que não vai demorar nada para os pescadores serem escorraçados de vez do remanso do Saco da Ribeira. A propósito, já escutei mais de uma pessoa afirmar o seguinte: "Essa gente da pescaria já está atrapalhando". Portanto, estejamos preparados para, logo logo, vir a ordem de refazer tudo aquilo para um fim "mais nobre".  Imagino o quanto sofreriam, diante desse quadro degradante, os saudosos João Glorioso, João Guimarães, Jango Vieira, Peralta e tantos outros pescadores caiçaras que faziam daquela praia o seu campo de trabalho em outros tempos.

2 comentários:

  1. Infelizmente esse maldito progresso não tem freio. Até quem é claramente vítima dele costuma defende-lo.

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  2. Não tem freio porque o alimento dele é a ganância.

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