sábado, 4 de setembro de 2021

UBÁ E IGARA

 

Cruzando o mar (Arquivo Canoas Caiçaras)

Que canoa! (Arquivo Canoas caiçaras)

Canoas defronte ao Casarão  (Arquivo Ubatuba Antiga)

Prova de canoas na praia de Yperoig  (Arquivo JRS)

     Líllian, Lisangela e Ana Carolina: bem-vindas ao blog!


   Assistindo ao Mestre Neco fazendo canoa, me recordei de quando o Mestre Doca trabalhava um tronco de taquiuva  bem grande. Acabara de tirar as medidas com um cipó. "Vai dar uma canoa de quase dez metros. No mínimo, quatro remadores serão necessários na embarcação. No tempo dos antigos bem antigos, dos parentes tupinambás, seria uma igara pequena. Igara-mirim. Uma igara grande, igaraçu, teria pelo menos o dobro do tamanho". Imaginei na hora o quanto teria de ser portentosa a árvore para canoa assim. Achei demais, mas nem comentei com o velho caiçara, mestre canoeiro no Saco do Sombrio, na Ilhabela. Fui pesquisar. 


    Achei algumas pérolas:


1- Os "Tupis do Rio de Janeiro, como os de Parati e Ubatuba, possuíam canoas tão grandes, feitas de um só tronco, que algumas delas eram capazes de quarenta, sessenta e mais tripulantes". Igarassu era uma vila pernambucana. Hans Staden, que a visitou e ajudou a defender-se contra os Potiguara, em 1548, denominou-a de Garassu.  Imagine só!  Escreveram que "Martim Afonso de Sousa, na sua viagem de 1530, assistiu, maravilhado, a uma encarniçada batalha naval entre gentios de Itaparica e do continente na Baía de Todos os Santos". Só não se demorou muito por lá, porque precisava vir até a Baixada Santista e fundar, dois anos depois, a primeira vila do Brasil: São Vicente. Quando eu comentei isso com o tio Dico do Puruba, ele arrematou: "Pois é.  Ele até esteve uns três dias aqui com a gente, mas estava apressado mesmo. Pousou ali, na casa do tio Durval, discutiram futebol até o curiabô gritar no mato, mas quem levou a melhor foi o titio corintiano. O outro era vascaíno. Hoje nem lembro mais da cara dele. Só sei que fedia demais. Porcalhão, não tomava banho! Confirmou aquilo que o finado vovô dizia dos portugueses". Gargalhei, ué. Como é sarrista o povo caiçara!


2- Ubás eram as canoas feitas de cascas de árvores, com pontaletes no meio e ajustadas com cipó, de acordo com o estudioso Teodoro Sampaio. "Em geral eram pequenas, leves e mal compostas". Ou seja, embarcações do tipo a "Cu Grande", do saudoso tio Genésio, uma canoa bem feia, rombuda, mas muito usada para cargas entre Lázaro -  Fortaleza, e, Praia Dura - Fortaleza, no tempo em que nem estrada tinha por aqui. 


   O nome ubá, segundo o autor citado, "confunde-se frequentemente com o vocábulo uyba, que quer dizer flecha". Pelos terrenos, sobretudo próximos dos rios de Ubatuba, abundam os flechais. As hastes, de onde saem as floradas muito semelhantes às flores dos canaviais; eram usadas para fazer flechas a serem arremessadas pelos arcos dos guerreiros dos povos originários. Ainda hoje, apesar de todas as sortes de destruição, ainda avistamos às margens do Rio Grande de Ubatuba os vistosos flechais. Os caiçaras de outros tempos usavam as referidas hastes para confecção de gaiolas. Portanto, não duvido que Ubatuba sempre foi "Uyba-tiba, o flechal, ou canavial bravo". Vários autores são da mesma opinião.

2 comentários:

  1. Igarassu reivindica o título de primeira vila do Brasil.

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  2. Eu creio que, pela lógica, é mesmo. Primeira vila ser tão ao sul é difícil de aceitar.Grato pela informação, Jorge.

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