domingo, 5 de setembro de 2021

EU ESPERO QUE VOCÊ ACEITE

 

Cartaz 2021 - Arquivo Fundart


        Um belo dia a estimada professora Nalva entrou em contato comigo para perguntar se eu aceitava uma homenagem: dar meu nome ao concurso de crônicas a ser criado. "A indicação partiu do setorial de literatura e foi aprovado pelos demais que compõem a Fundart". Na hora, eu fiquei de pensar. Afinal, muita gente boa estava escrevendo em Ubatuba; alguns até com vários livros publicados.  Eu apenas publicava, há alguns anos, uma crônica semanal no jornal A Cidade. Dei umas desculpas, mas fui retrucado pelo amigo Paulo Zumbi, do setorial de fotografia; "O seu nome foi consenso após os debates, Zé. Pensa bem, mas eu espero que você aceite". Ao chegar em casa, falei da novidade à minha Gal. "E qual foi a sua resposta ao pessoal da Fundart?". Foi a fala dela que me levou à resposta afirmativa para a Nalva. "Eu acho que você deveria aceitar. Afinal, se eles se lembraram do seu nome, e, dentre outros, decidiram por você, é sinal que têm muita consideração pelo que você escreve, que gostam de você. Imagine o quanto eles conversaram até deliberar pelo seu nome. Aceita sim". E assim foi. Agora, pelo sétimo ano consecutivo, tenho a satisfação de estar, junto com Idalina Graça, Washington de Oliveira e Tia Helô, compondo o cartaz de anúncio dos concursos literários da nossa cidade.


   O objetivo da realização é estimular à criação artístico-literária, em especial dos novos autores que passam a ter um espaço para difundirem os seus trabalhos e uma homenagem póstuma ou não a um poeta ou escritor nascido ou residente na cidade de Ubatuba. Poderão participar do Concurso Literário todos os interessados residentes ou domiciliados no Litoral Norte e Vale do Paraíba. As três melhores obras de cada categoria serão publicadas no livro intitulado "ANTOLOGIA 2021", com as seguintes premiações:

– 1ºLugar –R$ 500,00 (quinhentos reais) e 10 Antologia 2021;

– 2ºLugar – R$ 300,00 (trezentos reais) e 8 Antologia 2021;

– 3ºLugar – R$ 200,00 (duzentos reais) e 5 Antologia 2021.

    

P A R T I C I P E !


   Ah! Em 1993, eu fui selecionado! Quem declamou a seguinte poesia foi a estimada Tia Helô.


CAIÇARA

As cercas me limitaram,

Deixaram que os matos crescessem,

E, isolaram os ranchos do lagamar.


As cercas arruinaram os ranchos,

Apodreceram as redes, os remos...

A das canoas não há o que aproveitar.


As cercas limitaram a criação,

Diminuíram as moitas de bananeiras,

E, já não há mais "Salão".


As cercas arrancaram os chapéus,

Das calças arregaçadas nada restou.

Nem mesmo há jasmins e manjericão.


As cercas nos tocaram para o mato,

Para trás ficaram as casas de pau-a-pique.

Os pescadores estão enfileirados na cidade.


As cercas nos tiraram a convergência,

Não há peixe-com-banana verde, nem pimenta.

Nem se avista uma identidade.


As cercas mataram abricoeiros e pitangueiras,

Retiraram os sustos dos vaga-lumes

E o gosto de passear.


As cercas mudaram caminhos.

Já não há pegadas claras.

Nem para hoje, nem para posteridade.


2 comentários:

  1. Lindo lindo poema !
    Só uma alma que vive nossa cultura tem tamanha inspiração.
    Arrela seminino José Ronaldo sou seu fã desde que te conheci.
    Quando leio tamanha inspiração confesso meus olhos derramam lágrimas tão salgadas quanto a água do lagama.

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  2. Eita, Pedro arretado! Grande abraço, irmão!

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