sábado, 8 de maio de 2021

SEI PORQUE VIVI

 

Em Ubatuba. Conhece essa praia? (Arquivo JRS)

         Dia novo. Me inspiro entre as linhas de  Terra Sonâmbula, de Mia Couto. Elas me despertam a atenção numas e noutras frases de uma terra distante (Moçambique - África Oriental), banhada por outro oceano (Índico), falando a mesma língua nossa (portuguesa) e contemplando o mesmo ser que une todos os continentes e ilhas desta Terra: o mar

   Estou numa passagem que fala de gente na praia. Assim como aos pescadores do litoral norte paulista, ainda maioria composta de caiçaras, além do mar tem a terra portadora de esperança na vida, de onde sai raízes, folhas e frutos para o sustento. Roça e mar de peixe se relacionam. Por isso pincei do escritor de outra terra-irmã esta significativa frase: "Uma roça, uma lavoura: extensão da vontade humana". Então me lembrei de outro livro, Os caiçaras contam, onde Marco Frenette, entre significativos textos, inseriu imagens e depoimentos da nossa gente antiga, se lê:


   É um privilégio poder iniciar o dia diante de uma imensidão azul que se estende até as linhas do horizonte. Generoso em sua grandeza, o mar incentiva quem o contempla a ver o mundo com menos rigor e mais tolerância.

   Esse é o motivo porque o nível de neurose das populações litorâneas é menor do que o das populações urbanas, que, privadas da dádiva de conviver com praias, encaram diariamente a opressão de uma vida cercada por ferro e concreto.

  Qualquer turista acidental, por mais  distraído que seja, percebe os benefícios imediatos que o mar oferece ao espírito humano, pois compara a paz que sente no litoral com a angústia que o domina na hora de voltar para os grandes centros urbanos.

  Entretanto, o mar que o visitante vê e sente não é o mesmo que se apresenta aos olhos e ao coração nativo. Enquanto o primeiro cultiva um deslumbramento, o segundo tem uma profunda relação de respeito e interação com ele, até porque já foi e ainda é, em certa medida, sua fonte de sustento.

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