quarta-feira, 26 de maio de 2021

A REDE DO TEMPO-MAR (II)

 

Prosa no jundu (Arquivo JRS)

Continuando nas veias poéticas do Santiago...


O velho caiçara estava ali... E eu...


...Sentado num toco, escuto, distante, ondas de uma maré antiga ecoando no meu silencio e nas cavernas de corais dentro do grande, imenso mar do tempo:


Si o moço qué sabe

eu vou conta pro sinhô

Eu nasci debaixo  dessas arvres

lá bem perto do marzão

Aprendi desde cedinho

 a ter calos nas mão

Antes eu era pescador

de rede, canoa e remo

levantava antes do sol

pra pescá o pexe bão

Era simples e tranquila a vida

 mas fácil não era não, 

mais nóis tinha o que precisava

e não era muito não 

Mas bastava e nóis sabia

que era feliz e hoje nóis não é mais não

E então chegou a estrada

cortando as terra desse chão

como um rio de asfarto

dividindo nossas vidas

separando o mar do sertão

E chegou as casa grande do povo da capitá

invadindo nossas praias e cercando nossas trilhas

com arame, farpa e mourão

e eu que era pescador

hoje já não sei o que sou

pois as casas pequeninas de bambu barro e sapé

foro tudo derrubada

prá levantá os casarão

dos que vinheram de longe 

ocupá o nosso chão

e nos rancho abandonado

os petrecho apodreceram sem ter mais uso não

coisa triste de se ver

As canoa encostadas sem voltar mais pro marzão

Prometeram tanta coisa 

vida boa e trabaio, casa, escola, leite e pão

mas cumpriram nada não

Foram derrubando as mata

arvre grande e pequena foi tudo pro chão

e a gente nem podia

rancá um pé de ingá, cedro , canela ou guapuruvu

prá fazê uma canoa pra gente podê pescá


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