domingo, 16 de maio de 2021

JORGE DA EMÍLIA

 

Tucano em Renópolis (Arquivo JRS)

    Assim que entrei na adolescência, conheci o Jorge. Ele havia chegado de Santos; se tornou parceiro no vai e vem à escola. O seu pai, assim que se aposentou do trabalho (de estivador) no porto de Santos, retornara com a família para Ubatuba, a terra natal. A comunidade da praia da Enseada acolheu-os imediatamente. Não demorou nada para o pai e a mãe do Jorge estar à frente dos trabalhos comunitários que se irradiavam da capela Santa Rita. Gente simples, de coração aberto!

    Nessas idas e vindas, pelos caminhos da escola, Jorge e Emília, grande amiga da praia do Lázaro, se enamoraram. Logo se casaram e continuaram caiçaras genuínos, sempre acolhedores. Devido à pandemia, nossos encontros pelas conduções não aconteceram mais. Hoje a triste notícia: Jorge faleceu por Covid. 

     Sabe aquela pessoa que já nasce com um talento forte? Pois é! O meu saudoso amigo, desde que o conheci, era da área do Direito. Só que, apenas poucos anos atrás, pode começar a estudar. Mas só começou. Logo teve de parar devido as condições econômicas e porque a esposa adoentou gravemente. Jorge não foi capaz de sacrificar ainda mais a vida da esposa. Porém, aquele trabalho burocrático e técnico de montar processos e de ajudar as pessoas mais carentes nunca deixou de fazer. 


      Força, querida Emília. Em memória do meu amigo, um poema do mano Mingo:

Vida caiçara

 A história de quem nasce aqui

começa com o pé no mar

até tomar intimidades

e pular nas ondas, mergulhar no mar

e beber água do mar.

E conforme cresce em idade e experiência,

ao mesmo tempo vai tomando ciência

em manejar o remo, em costurar a rede,

e adquire a sabedoria dos nomes dos peixes,

da força dos ventos, dos humores do mar,

dos sinais dos tempos,

até merecer a distinção mais cara

de ser, no trabalho e na cultura,

mestre em tradição caiçara.

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