segunda-feira, 3 de maio de 2021

A QUEDA DO CÉU

 

Artes da Gal - Arquivo JRS

           Tenho pensado muito ultimamente sobre a nossa responsabilidade ecológica. Um mundo desequilibrado afeta todos os seres, destrói todas as vidas. Não é possível assistir a todas essas formas de devastação ao nosso redor e se comportar como se tudo isso fosse normal. Aonde vai a nossa capacidade de sentir a vida, de se indignar pelo descaso geral pela Natureza?

      No livro A queda do céu, lançado em 2015, o yanomami Davi Kopenawa faz a seguinte abertura:

     A floresta está viva. Só vai morrer se os brancos insistirem em destruí-la. Se conseguirem, os rios vão desaparecer debaixo da terra, o chão vai se desfazer, as árvores vão murchar e as pedras vão rachar no calor. A terra  ressecada ficará vazia e silenciosa.  Os espíritos xapiri, que descem das montanhas para brincar na floresta em seus espelhos, fugirão para muito longe. Seus pais, os xamãs, não poderão mais chamá-los fazê-los dançar para nos proteger. Não serão capazes de espantar as fumaças de epidemia que nos devoram. não conseguirão mais conter os seres  maléficos, que transformarão a floresta num caos. Então morreremos, um atrás do outro, tanto os brancos quanto nós. Todos os xamãs vão acabar morrendo. Quando não houver mais nenhum deles vivo para sustentar o céu, ele vai desabar.

    E, numa passagem mais adiante, outro - e definitivo! - alerta:

    Mais tarde, na floresta, talvez morramos todos. Mas não pensem os brancos que vamos morrer sozinhos. Se nós formos, eles não vão viver muito tempo depois de nós. Mesmo sendo muitos, também não são feitos de pedra.  Seu sopro de vida é tão curto quanto o nosso. 

   Agora pergunto, sobretudo aos de ascendência caiçara que resistem neste litoral: o quanto de espírito da Natureza sobrevive em nós? Se ignoramos essa luminosidade herdada dos ancestrais, seremos esmagados. Alguém duvida? 

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