terça-feira, 18 de maio de 2021

SERRA ABAIXO, SERRA ACIMA

 



Aviso na Serra do Mar (Arquivo JRS)

       "A defunta Benedita dizia que, nos caminhos, daqui até lá, era uma boniteza só: tinha bichos, flores, cachoeiras e mais coisas. Outra coisa que chamava a atenção era a serra encoberta, pois havia, sempre sempre, muita cerração. Chegava molhar as pessoas, mas era bom porque aliviava o suor da caminhada. Saindo deste lugar e chegando lá, levava mais de um dia andando. Pousavam uma noite pelo caminho, na casa de alguém. Chegando lá, era comum encontrar mais gente, de diversos lugares. Iam em busca de curas, de remédios para doenças que tinham".

      Assim fiquei sabendo da Sá Mariinha das Três Pontes, uma mulher que curava, no município vizinho de Cunha. Quem me contou foi a saudosa sogra do Tertuliano, morador do Sertão do Cambucá. Ah, faz tempo! Anos depois,  por alguém muito estimada, chegou em minhas mãos um livro a respeito dessa curandeira distante. Logo me lembrei de mais coisas proseadas naquele ano de 1981, durante a realização do Censo Agropecuário. Mas quem foi essa mulher, essa Mariinha que atraía até caiçaras em busca de alívio?

   Dona Maria Guedes, a Mariinha das Três Pontas, nasceu por volta de 1880, no bairro do Sertão dos Mariano. A casa originalmente coberta de sapê, como a maioria das residências humildes na zona rural de Cunha, era bem dividida e ampla, para atender da melhor maneira possível a família. Foi nessa primeira casa que Sá Mariinha passou alguns anos enferma, em seu quarto, praticamente paralisada.
   A atual casa, coberta de telha, na qual viveu os últimos anos de sua vida, foi construída nos meados do século XX, quase paralela à antiga residência demolida.
   Na humilde casa, ela acolhia a todos com maior boa vontade e amor. O café, na chaleirinha de ferro, fumegando sobre o suspiro do fogão de lenha, era o que ela de bom coração oferecia a quem ia procurá-la. Para  muitos, que vinham de longa distância, ela oferecia almoço.
   
    Esse último detalhe me fez recordar da fala emocionada da idosa caiçara: "Era uma panelinha pequena em cima do fogão. Só que a comida nunca acabava, dava para muita gente". 

    Era isto! Por hoje é só! A minha intenção era chamar atenção para o detalhe da integração do nosso pessoal nas necessidades. Caiçaras e caipiras viviam se tecendo pelos caminhos entre o Vale do Paraíba e o litoral. Com o advento do turismo, muitos desses lugares de Serra Acima ficaram esvaziados porque seus moradores se mudaram para Ubatuba. Sertão da Quina, Corcovado e Ipiranguinha, pelo que conheço, são os bairros onde mais houve concentração dessas famílias migrantes.

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