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Casarão do Porto - Arquivo Guisard |
Em época de alguns encontros literários acontecendo nas proximidades, tenho de citar livros e autores. Mohamed Mbougar Sarr, um escritor senegales, escreveu o seguinte em uma história (A mais recôndita memória dos homens), onde uma mulher está se referindo a uma pátria que se defende sozinha. "Que pátria é essa? É a pátria dos livros, é óbvio, dos livros lidos e amados, dos livros lidos e desprezados, dos livros que sonhamos escrever, dos livros insignificantes que foram esquecidos e nem sequer sabemos se alguma vez os abrimos, dos livros que fingimos ter lido, dos livros que jamais leremos, mas dos quais também não nos separamos por nada do mundo, dos livros que aguardam sua hora em uma noite paciente, antes do crepúsculo deslumbrante das leituras da alvorada. Sim, eu dizia, sim: serei cidadã dessa pátria, serei leal a esse reino, o reino da biblioteca".
Os livros nos permitem viagens fantásticas e uma vantagem principal: não cair tão facilmente nas garras de quem conspira contra a democracia e contra os direitos humanos. No momento, relendo a biografia de Félix Guisard (fundador da Companhia Taubaté Industrial), escrita por Cláudia Martins, faço questão de repassar um dado histórico:
Em 1933, as festas da família ganharam mais um lugar. É que Félix Guisard adquiriu um casarão em Ubatuba, chamado Sobradão do Porto. O local fora construído por Manoel Baltazar da Cunha Fortes, comerciante português que depois o vendeu para o Julius Kerstz, húngaro que fez dele o Hotel e Restaurante Budapest e que, por sua vez, o vendeu a Guisard. O prédio foi todo construído com material vindo de Portugal. Até os batentes de pedra vieram com lastro do navio. Félix Guisard fez questão de preservar cada canto da casa, consciente do seu valor artístico.
Além do sobrado, Guisard também comprou algumas terras e um pedaço da praia do Perequê-açu. A cidade, ainda pouco habitada e também pouco visitada por turistas, oferecia um mar de paz e tranquilidade depois do trabalho estressante da fábrica. Porém, o problema estava em chegar a Ubatuba. A estrada era interminável, cheia de buracos e. quando chovia, o carro atolava na lama e não havia que o fizesse andar. Era preciso procurar a fazenda mais próxima e emprestar uma junta de bois para arrancar o carro do atoleiro. E a viagem pela Serra do Mar durava boas horas.
Em tempo: acabara de ser inaugurada a Rodovia Oswaldo Cruz (Taubaté-Ubatuba), a primeira via rodoviária a adentrar o território ubatubense. Vinte e cinco anos depois seria concluída a seguinte que faria a ligação com a cidade vizinha de Caraguatatuba.