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| Arte em casa - Arquivo JRS |
Ao viajante cabe prestar atenção aos pormenores, pois são eles que fazem compensar as andadas, senão...seria como passar no céu de avião e dizer que viu tudo.
Os pormenores são riquezas naturais e/ou artificiais, criações culturais. De Ubatuba, das praias onde vivi, eu posso falar de alguns pormenores: na praia do Sapê nós tínhamos as gamboas, áreas encharcadas com uma diversidade impressionante de seres vivos onde, periodicamente, bandos de pássaros migratórios pousavam. Nos dias quentes, de sol abrasador, os peixes se compunham nas superfícies. Cágados abundavam. Que espetáculo! Na Queimada a gente se fartava de manacarus, araçás, goiabas e pitangas, além das lindas orquídeas. Pescaria na praia acontecia no Porto do Eixo. Coleta de cambiás se dava próximo da Ilha do Pontal, na maré baixa, depois de um mar ressacado. Os melhores mergulhos aconteciam em torno das ilhas (Tamerão e Pontal), com pescaria garantida e, conforme a época, preguais tentadores. Quem conhece hoje esta iguaria da cozinha caiçara? No caminho para o Pulso existe o cemitério da Maranduba, onde os defuntos familiares apreciam a paisagem. Na Fortaleza, praia onde nasceu minha mãe, a Ponta e o Canto do recife são os pormenores mais evidentes. Desafio é saber onde está o Buraco da cobra, o "Salão" da Cachoeira, a represa do tio Dário, a Pedra da Igreja, o Morro da Anta e o Morro do Tatu. A casa da tia Martinha é um capitulo à parte (porque era a nossa escola) antes da municipalidade construir a que permanece até a atualidade, no local do bananal do sul, por onde partia o caminho do morro em direção à praia Grande do Bonete. No Perequê-mirim, infelizmente perdemos o sertão do Dito Coimbra, mas deve continuar existindo o Caminho das Três Praias, né? Era a nossa mata de tucum e ingá. Na costeira, além do Saquinho Manso, tem a Pedra Redonda e a Pedra do Zé Brás. A Santa Rita é um caso à parte, mesmo não existindo mais aquele jundu maravilhoso. A primeira atração é a Pedra do Sino. Atravessando por ela, ou melhor, voltando um pouco chega-se à costeira da Bela Vista, onde encalharam muitos corpos dos passageiros do Príncipe das Astúrias, o navio naufragado nas costas da Ilhabela há muito tempo. Infelizmente a casa mal-assombrada de outros tempos não deve ter resistido ao tempo. Na Enseada, na prainha do Canto do Góis, ainda resistem restos de um engenho de pinga, mas precisa atenção de quem anda interessado em ver além das pedras arrumadas em partes. Lindeza de cambucazeiros e jaqueiras atestam a ocupação dos primeiros empreendedores. Em seguida, siga em frente para conhecer os pescadores, o Povo do Paru, a linda trilha da Praia de Fora. Pelo caminho não deixe de vislumbrar muitas frutíferas, lagartos e outros bichos! Com esforço é possível contemplar a beleza de quatro praias (Tapiá, Pixirica, Xandra e Maria Godói). Eu rebatizaria a trilha por Caminho do Paru. Só que, infelizmente, a continuidade do acesso à praia das Toninhas está barrada. Um condomínio de ricaços pode fazer isto: fechar um Caminho de Servidão, herança da cultura caiçara. Quem irá reabrir?
Impressionante como viemos perdendo gosto pelo esplêndido material que a natureza nos deu ou de tudo aquilo que herdamos dos mais antigos!

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