terça-feira, 4 de novembro de 2025

RETRATO DE UM POVO

 

Desigualdade - Arquivo internet 

   Estamos bem longe de uma sociedade igualitária. Me refiro ao Brasil que conhecemos, onde se encaixa a minha cultura caiçara, mas é assim também mundo afora, com raríssimas realidades menos desiguais, sem muito contraste entre quem ganha mais e quem ganha menos. No entanto, esses poucos países "igualitários" se beneficiam de explorar outras nações. As leis ambientais deles são descumpridas em outros países por eles mesmos, por suas empresas. Seus produtos repudiados, condenados porque são venenosos, seguem sendo produzidos e vendidos em outras terras. Seus parlamentos fazem vista grossa aos crimes que suas empresas patrocinam em outras terras, não tomam posicionamento contrário aos absurdos que determinadas nações promovem mundo afora, continuam apoiando guerras etc. "Que país legal de se viver!". "Ah é! Saiba você que a empresa que causou aquele acidente ambiental e foi perdoada é de lá". "Gostaria de ir morar num lugar assim!". "Ah é! Lá é um paraíso fiscal inalcançável, onde corruptos brasileiros têm suas granas depositadas conseguidas à base de injustiças praticadas". Pouca gente para e pensa nesses aspectos, entender que para existir riqueza tem de haver pobreza. Povos inteiros foram empobrecidos para resultar em países ricos longe dali. Também no nosso país é assim: a pobreza de muitos está na base da riqueza de poucos. Para isso se recorre a tudo: trabalho escravo, fim dos direitos trabalhistas, salários vergonhosos, instabilidade profissional, péssimas condições de moradias e de lazer, propagandas enganadoras etc.

  Quando viajo e vejo pelas estradas pessoas caminhando em direção a qualquer santuário, pagando promessas, me recordo de um frase de José Saramago, escritor português: "São o retrato cruel, mas exato de um povo que durante séculos sempre pagou promessas próprias e benesses alheias". Quem pode mudar as leis que protegem esses criminosos que sustentam essas desigualdades? Agora, por exemplo, esses bandidos organizados não querem uma lei que combata os sonegadores e facções criminosas, não desejam que os ricos paguem mais impostos que os pobres, são contras rever seus disparates salariais, faltam no serviço, mas nem se importam com isso etc. Pior: inculcaram na classe mais pobre que política é coisa ruim. A pergunta é: Ruim para quem? Quanto menos pessoas se interessarem pela política verdadeira (arte de cuidar da cidade, da coletividade), melhor para os que vivem dos pagadores de promessas que sustentam as benesses alheias. Faz me lembrar também do Analfabeto Político, de B. Brecht: "Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio dos exploradores do povo". Não continua atual esse poeta alemão do século passado? Não continua?


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