domingo, 20 de setembro de 2020

AQUELA CASA

Na beira da estrada (Arquivo JRS)


             Quem faz casa na beira da estrada tem sina de acolhedor, pois quem viaja recorre sempre por um copo de água, uma informação ou simplesmente larga pelo chão o fardo num instante para prosear

           O dia amanhecia. Bem na frente daquela casa eu parei para esperar o Chico Lopes que se dirigiria ao pé da serra, ao sítio. Eu iria para conhecer a cachoeira das Pedras Brancas. Sentei ali, na beira da estrada; poucos carros passavam naquela momento. Abri a mochila e puxei de caderno, máquina fotográfica e caneta para registrar aquele momento. Deduzi que há tempo ninguém morava ali, nem zelava pela área como seria merecido. Notei o estilo e os materiais usados na obra: tudo moderno em outros tempos. Foi feita bonita, acolhedora... Sem cerca alguma para dizer que confiava nos passantes e não recusava acolhida. Uma janela antiga requadrada com esmero. Em meio à natureza, ela parecia querer também ser notada. Assim a humanidade foi trabalhando, modificando a natureza: pedra foi cortada para alicerce, barro virou tijolo e telha, árvore virou porta, janela, caibros, vigas, ripas... A casa se tornou proteção ao homem, à mulher e às crianças que se multiplicaram sobre mais espaços da natureza, da mata ao redor. O tempo passou, as pessoas se foram e os sentimentos de zelo pelo belo foi se apagando. Teve pintura? Agora não tem mais. Flores abundavam o terreiro? Agora é só terra seca e folhas secas ajuntadas pela ventania. O que eu faria? Reformava seguindo conforme a originalidade e a tornaria aquela casa novamente agradável, capaz de despertar contemplações de todo mundo que estivesse passando por ali. Depois de tudo pronto, de um jardim colorido, um banco seria permanente para boas prosas. Um cachorro, um gato e galinhas dariam movimento ao espaço. Pensava tudo isto quando o Chico chegou batendo em minhas costas. "Vamos?". Embalado na imaginação, prossegui: "Senta aí, compadre. toma um cafezinho que acabei de passar. E aproveita que a minha amada ainda dorme, mas aprontou ontem umas broinhas de milho que não tem como não gostar". Ele, vendo a casa e notando o caderno com coisas escritas, sentou ao meu lado. Me escutou e acrescentou a sua luminosidade ao meu olhar, àquela casa da beira do caminho de antigamente, onde muitas tropas passaram com suas cargas valiosas a enfrentar a dura subida e descida da Serra do Mar.

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