terça-feira, 8 de setembro de 2020

VELHAS ÁRVORES

Tronco da velha jabuticabeira (Arquivo JRS)

Velha jabuticabeira (Arquivo JRS)
            Ao me deparar com uma velha jabuticabeira em minhas andanças, o que mais me impressionou foi o seu tronco cheio de rugas. Fotografei-a pensando na possível idade da árvore: "Seguramente tem mais de cem anos". Me demorei ali apreciando as formas que continuam abrigando os caminhos de sua sustentação, os nutrientes da planta. Imaginei o quanto já produziu, quantas gerações se beneficiaram dos seus frutos. Olhando melhor, me admirei: "Nossa! Ela ainda frutifica!". Seus galhos, de meio para cima estavam cheios de frutas verdes, ainda crescendo. "Dentro de duas semanas, no máximo, estarão maduras".

        Aquela árvore, ali na beira da estrada, me fez recordar das jabuticabeiras do estimado japonês Hiasa, do Perequê-mirim. Na sua área de plantação se encontrava três jabuticabeiras que ficavam carregadas de frutos entre setembro e outubro. Ninguém ousava ir lá para recolher alguma coisa sem que chegasse o dia certo, quando o proprietário convidava todos os moradores do lugar para o ato. Era uma tarde inteira numa grande movimentação. As árvores eram enormes, todas carregadas de uma das frutinhas da nossa infância mais cobiçada. Os troncos e galhos estavam pretos nesse dia, bonitos demais; doces na medida certa. Era um ritual que se repetia a cada ano. Não havia muros, não tinha nenhuma cerca, mas ninguém dali mexia antes do tempo, sem que o senhor Hiasa fizesse o convite. Além do pessoal do bairro, até de outros lugares vinha sempre alguém que já estava acostumado com aquilo. Apesar de estarem em propriedade particular as saudosas jabuticabeiras, seus frutos eram coletivizados. Hoje aquilo tudo foi loteado. Das três árvores, apenas uma avistei em pé uns anos atrás, mas se encontrava maltratada demais. Será que ainda frutifica? Não sei. Mas valeu as imagens para rememorar um procedimento tão significativo daquele homem que veio de um país distante cultivar em chão caiçara. Seu filho, casado com mulher caiçara, certamente nesta época de jabuticabas no pé, deve se relembrar do velho pai e contar aos filhos e netos o quanto bonito era aquilo: um exemplo para  compartilhar na luta contra a riqueza concentrada.


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