quinta-feira, 3 de setembro de 2020

MORRO DE SAUDADES

Praia da Santa Rita - Ubatuba (Arquivo Postal)
Preguais (Arquivo JRS)


                As imagens sempre podem inspirar, despertar a nossa memória e nos conduzir para além deste momento. No caso, contemplo o morro do Saquinho Manso e a praia da Santa Rita. O tempo? Começo da década de 1980, quando o verde do morro desapareceu, dando lugar para as enormes casas (mansão de tubarão). Onde aparece a obra maior, branca, debaixo das folhas de imbaúba, era o nosso caminho, onde corríamos totôa (diversão em descer  o morro deslizando numa capa de cacho de coco). Morávamos no Perequê-mirim, mas vivíamos se tecendo, indo constantemente até a Santa Rita. Hoje, quem quiser fazer isso, não consegue mais. Um muro protege a área. Só um acesso precário existe acompanhando a costeira até chegar ao portão da Santa Rita. Isso mesmo! Existe um portão e o horário determinado de acesso, tipo assim: depois de tal hora é proibido o acesso. Aqueles pequenos veios de água que nos acudiam devem ter sucumbidos pelos cortes nos morros e aterros. Aquele espaço não é mais. Aquele morro agora é outro, onde, ao vislumbrar, eu morro de saudades.

                Na direção do primeiro barco, logo abaixo da mansão, fica ainda a Pedra Redonda, onde as crianças davam seus primeiros mergulhos ousados. No rumo da segunda embarcação, quase chegando na maravilhosa praia, era o local dos nossos orgulhosos mergulhos coletando preguaís, um molusco marinho. Mamãe cozinhava aquilo, fruto do nosso esforço, com o maior prazer. Que deliciosa iguaria que o mar nos oferecia na chegada do verão, quando as águas esquentavam! Naquele profundidade, por volta de quatro metros, apenas uma máscara bastava para vê-los passear pelo fundo do mar e logo fazer uma carga deles. Porém, muitos de nós nem tinha máscara de mergulho, mas alcançavam o mesmo sucesso de quem estava equipado. Só os olhos ficavam mais castigados pelo sal da água.


                 

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