sexta-feira, 11 de setembro de 2020

OURO À VISTA

 

                                                                                                                Meu ipê florido.....(Arquivo JRS)

                O que cobiça esse ser ao afirmar que “é preciso passar a boiada”, destruir a única riqueza verdadeira: a vegetação? Onde vamos parar com tanta destruição ambiental? Como exigir que as populações tradicionais sejam respeitadas, que seus territórios continuem preservados para a vida?

                Somem árvores e rios. Acabam os peixes do mar, dos lagos... As aves migratórias da minha terra desapareceram porque os brejos fartos em nutrientes foram aterrados pela gana imobiliária. Diminui a oferta de alimentos, surgem novas doenças devido ao desequilíbrio notório. Tudo se esvai como água entre os dedos.

                Em cada esquina um monte de tudo batizado de entulho. Plásticos decoram beiras de estradas. Morros são destruídos para o acúmulo de capital apenas de um ou dois seres.

                Qual ser inteligente corroeria os alicerces da casa que o abriga? Qual ser jogaria esgoto na água que precisa para a vida? Onde está a sabedoria em pensar somente no agora como se não fosse existir outras gerações?

                Ao escutar um economista dizer que, no Brasil, chega até 600 (seiscentas) vezes mais que o salário médio dos trabalhadores os salários de diretores de algumas empresas, me pergunto se entre os homens as necessidades biológicas são diferentes. Partindo dessa forma de violência fica fácil entender a razão da violência crescente sob todas as formas na nossa sociedade.

                Durmo e acordo atento e tenso  aos rumos desta terra e desta Terra. Meu espaço está arborizado. Cada planta eu vi desde semente. Agora olho desde as minúsculas suculentas, sempre com folhas rebrotando em novas mudas, até os grandes coqueiros jarobás oferecendo suas floradas às abelhas e seus coquinhos às crianças que, com pedras, quebram seus frutos na calçada, se alimentam deles. Pelos galhos das árvores que cresceram se aninham passarinhos diversos. Cantos e piados são constantes no cotidiano. Assim me equilibro. Assim se equilibram os da minha casa. Talvez os passantes também se aproveitem de nacos do meu prazer, do meu esforço. Pode ser que alguém reflita e passe a cultivar, a cuidar melhor do seu espaço particular para ser um lugar de paz com a natureza. Devemos ser capazes de entender que o todo não existe sem cada um.

               Tem ouro maior que isto?

                Tem sim! Agora contemplo a florada do ipê amarelo. Penso: “Ainda ontem era semente; hoje parece coberto de ouro”.

 

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