quarta-feira, 2 de setembro de 2020

MULHERES NA VALA

O mundo: nosso único ambiente (Arquivo JRS)




                Muita gente pode ficar pasma ao ter ouvido a jornalista Heloisa Villela, moradora nos Estados Unidos dizer que “é horrível agora a imagem do Brasil aqui e por todo o mundo”. Eu confio nela e na maioria das mulheres. A verdade precisa ser dita. Quem seria eu sem uma mãe, uma irmã, uma esposa e uma filha? O que seria de mim sem a influência de tantas companheiras na minha vida?

                Há quatro anos uma mulher foi destituída do governo deste país chamado Brasil. Era Pindorama dos indígenas. Os primeiros navegadores lusitanos, afobados que só, a chamaram logo de Ilha de Vera Cruz, cujo ponto mais alto recebeu o título de Monte Pascoal por estarem na Semana Santa daquele distante abril de 1500. Depois viram que era terra firme e imensa. Tomaram -na dos índios. É urgente perceber de onde enxergamos as coisas. A acusação principal contra essa mulher teve o apelido de pedalada fiscal. Era "um crime tão perverso" que, uma semana após lhe roubarem o cargo, deixou de ser crime pelos mesmos congressistas (absoluta maioria homens) que a julgaram e aplicaram a devida punição. Pelas palavras de um deles (Romero Jucá), tinha de ser assim, senão aconteceria uma sangria em que a maioria deles seria tocada pelo dedo da Justiça permitida por aquela mulher. No fundo há outra verdade além do medo de serem desmascarados em suas condutas: deveria prevalecer o machismo. “Onde já se viu uma mulher comandar o nosso país?!”. Quem nunca ouviu frase semelhante?

                É o sentimento machista que desencadeia outras coisas ruins, tão criminosas quanto as práticas de tantos que ocupam cargos políticos, principalmente daqueles a se revelarem em discursos idiotas há quatro anos, achando que brilhavam diante das câmeras. Parabéns aos poucos que entraram com honra na História!

                Alguns anos antes desse fato nacional, por ocasião das eleições municipais, ao passar perto do aeroporto da minha cidade (Ubatuba), avistei um lixo incomum por ali: na vala, além de garrafas plásticas e embalagens, estavam panfletos (“santinhos”) de candidatos aos cargos municipais. Mas um monte desigual chamou a minha atenção por ser de candidatas, de mulheres que participariam do próximo pleito. Deduzi que alguém havia recolhido apenas as propagandas femininas e lançado-as ali, diminuindo as possibilidades de serem vistas, de despertarem atenções e até de serem eleitas.

                Estudos revelam que elas (mulheres) têm tudo para que haja uma virada radical na vida em sociedade. Jogá-las na vala parece ser muito significativo. Desconfio que o maior dos desafios, inclusive a elas, é superar o machismo. Penso nisto agora porque sei de tantas que vibraram com o golpe contra a valente mulher que chegou ao posto de governante desta Nação. Faço questão de escrever porque percebo, além de tanta gente humilde, muitos estudados (até professoras!), deixando que princípios machistas tomem as rédeas em momentos tão críticos, reforçando que a economia (leia-se lucro de poucos) se sobreponha à vida. Não percebem elas que o sentimento machista quer ser superior, pisá-las, não reconhecer que vivemos num único ambiente. Seguindo assim, acabam revigorando hierarquias estúpidas e suas derivações de maldades. Defendo que só vivendo de verdade no mesmo ambiente é fácil nos tornarmos amigos, nos entendermos e rumarmos a algo melhor. Caso contrário, a vala continuará como alternativa para gente capaz de se deliciar em reduzir a força feminina, tê-la sob controle. Por enquanto apenas tristeza pela submissão dessa impressionante energia. Ainda bem que, bem ao meu lado, tenho uma guerreira! Ela e muitas outras farão um outro Brasil!

                Pessoal, que a vala nos sirva de lição! O país não merecia passar pela vergonha atual.

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