quarta-feira, 8 de maio de 2013

SAUDADES



                Há um ano, exatamente isso, nós perdemos duas pessoas que nos marcaram muito: ‘Seu” Mané Hilário e dona Silvia Patural.
O longevo caiçara da área central da cidade foi muito especial, sobretudo pela memória privilegiada e pelos causos de nossa terra. Já a francesa que adotou a nossa cidade desde a metade do  século passado, tem uma história de muita determinação, juntamente com o seu engenhoso esposo. Para homenageá-los, republico dois fragmentos de artigos que estão no blog. Foram entrevistas dos primeiros meses do blog (2011).

Sobre a fartura de peixe.
         
          "O pexe em Ubatuba a gente pedia pros consumidores pra compra pra pagá quando pudesse. Os pexe era demais. Era fartura, tinha demais. A gente vinha vendê o pexe. O que sobrava, a gente quando não dava, vortava com ele pra casa pra escalá. Quando tinha gente que queria, a gente dava, a gente trocava. Naquele tempo, no Perequê-açu, não havia muita casa. Aqueles que não tinha cana pro café trocava aquele fexe de cana por um pexe e levavam embora. Faziam a troca.
         A tainha era demais. Era trezentos mil-réis o mil. Uma tainha de duzentos réis, um tostão que a gente vendia... Escolhida a tainha grande de ova pra vendê, né? Que nem a sardinha. Sardinha era mil e duzentos o mil. Sardinha galhuda! Não dessas que vende hoje!  Sardinha galhuda que nóis chamamo, né? Porque tem trêis espécie de sardinha. Aquela tranqueira de pexe que a gente vendia tudo na beira do mar. A pesca era do corrê do cais pra dentro; tudo quanto era pexe: espada, corovina, goete, pescada... Era tudo quanto era pexe!
         Nossa mãe! Na puxada de rede na preia você  não podia tirá de dentro d’água, na preia puxá! Quando a rede vinha num cabo por banda, você não podia puxá a redada. O redêro, o prático dizia: “Aí vem coisa, no tempo da lula, no centro da rede” Perguntavam: “O quê, titio?”. “A correnteza que a rede vem trazendo é pexe!”. Quando chegava na beira da preia, às veiz não andava; encalhava. Era bagre urutu, era pescada amarela, pescada bicuda que nóis chamava, era pescada branca, obeba, gordinho... Eu com um primo-irmão, o Antonio Joaquim, que nóis chamava de Timbango, nóis dois sozinho, com Deus em primeiro lugá, demo uma redada de obeba, matamo seis mil, não pudemo alá a rede. Eu disse: “Antonio, ponha a rede num lado e de outro, vire as costas e não olhe para tráiz do que saí. Deixe que saia o que quisé saí”. Empatolemo a tralha da cortiça e do chumbo e fizemo força.  Que nada de rede vim! Era só obeba! Cada uma assim!"


Franceses sonhando em terras de Ubatuba (Parte VI)

                "Após seis anos plantando, com vários funcionários (Dito Rolim, Melentino...), a plantação estava em franca produção, começando a dar lucro. Surgiu a necessidade de aprimorar o transporte dos produtos. Era o ano de 1958 quando compramos, na Casa Granadeiro, em Taubaté, um trator. Questão: Como trazer o trator para Ubatuba, depois levá-lo até o Ubatumirim? Solução: Desmontá-lo todinho, transportar pela rodovia e pelo mar, e, remontá-lo na roça, onde ficou definitivamente.
        Aconteceu a melhoria na estrada da Sesmaria para o trânsito adequado do trator. Para levar o trator até o bananal, Jean-Pierre abriu uma estrada de sete quilômetros, sem máquinas, apenas com foices e enxadas. No local denominado “Gurita” foi preciso fazer uma ponte de madeira que fosse bem resistente para que pudesse passar o trator puxando a carreta carregada de bananas. Ele ainda ensinou um empregado chamado Freitas a dirigir o trator, dando algumas noções de mecânica. Pensava, num futuro próximo, ensinar outros rapazes e montar um curso para a formação de técnicos agrícolas. Foi uma grande novidade. Era gostoso ver o trator repleto de meninos, com o meu marido passeando com eles; lotavam a carroceria. Essa condução era atrelada a um carroção que escoava toda a produção para a praia, onde um barco grande, cujo nome era Manaus,  comprava tudo”.

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