sábado, 11 de maio de 2013

A REDADA (II)



              
Redada semanal (Arquivo Trindadeiros)
           A imagem de ontem, com Maneco Hilário, Alfredo Vieira, Antonio Athanásio e  outros, mostrava um momento dos pescadores. O local, onde hoje é a pista de skate, bem defronte ao aeroporto (o campo de aviação de Ubatuba), abrigava os ranchos das canoas e redes dos caiçaras do centro da cidade. Ali também ficavam os varais de bambus, onde as redes secavam e recebiam reparos. Voltando à imagem, parece que o finado Maneco mostrava alguma coisa lá para os lados do Morro da Ponta Grossa. Poderia ser sinais de cardume grande, coisa a ser confirmada pelo espia (que era especialista em avistar e calcular a quantidade de peixes que se aproximavam).
                Tanto onde nasci (Praia do Sapê) como onde morei (Praias da Fortaleza e do Perequê-mirim), a redada era semanal. O meu avô Armiro, juntamente com o tio Genésio, tinham uma rede grande que a cada sete dias estava na água. Os camaradas, ao ouvir o “toque do buzo” bem antes do amanhecer, se dirigiam à praia. Logo as canoas rolavam até o lagamar, pois a rede vivia embarcada, sobretudo em tempo de tainha. Um cabo ficava na praia bem seguro por alguém; a canoa grande saia desovando a tralha de cortiças e a tralha de chumbeiros, depois retornava à praia para, morosamente, a rede fechar os peixes contra a areia.
                Olhando de cima, a rede formava um desenho de circunferência cortada ao meio. Era quando o mestre da rede, depois de pedir que os camaradas sustentassem a tralha das cortiças bem levantadas, adentrava no lanço para fazer o ensacador. Alguns peixes conseguiam saltar assim mesmo. Se tivesse algum peixe grande capaz de rasgar partes das malhas, aí mais escapavam pelos furos. Mas assim que a rede ia ganhando o lagamar, nós, crianças ainda, capturávamos aqueles graúdos que se debatiam na lâmina d’água.
                Era bonito ver os grandes balaios serem enchidos por cações, embetaras, corvinas, palombetas, obebas etc.  Muitas das vezes bastava um só lanço. Depois de tudo novamente embarcado, as canoas seguiam para seus abrigos. Era a hora de repartir o produto. Os balaios eram virados, os peixes separados por espécies e tamanhos. Dos quinhões feitos, um terço ficava para o dono da rede. Quando havia espia, este recebia dois quinhões. Os demais camaradas tinham  direito a um quinhão cada. Na verdade,  ninguém deixava de receber peixe. Até as crianças, que se divertiam com toda a movimentação, saiam com as mãos carregadas de peixes. Logo tudo aquilo era consertado (limpo) no rio. Sempre tinha uma parte que era preparada para ser salgada e secada ao sol.
                À tarde, passando perto dos ranchos das canoas, as redes estavam secando nos varais ou sobre a vegetação rasteira do começo do jundu. Um ou dois dos pescadores consertavam as malhas avariadas, pois no dia seguinte poderia aparecer uma nova oportunidade de boa pescaria. Era a vida dos moradores da beira do mar, num tempo em que apareciam os primeiros turistas.

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