sábado, 11 de maio de 2013

REDADA NA PRAIA


Homenagem aos pescadores Maneco Hilário, Alfredo Vieira, Dito Corovina, Zé Capão e tantos outros (Foto: José Maria Fonseca)                

Agora, chegando o tempo da tainha, se valendo da fotografia antiga mostrando o Maneco Hilário e outros, fiz um exercício de memória a partir da postura, dos gestos deles. São, pelo menos, dez companheiros que estiveram pescando, puxando a rede na praia, entre o Itaguá e o Cruzeiro (Yperoig). É dia ensolarado. Nenhum dos antigos pescadores usava calção ou bermuda. Seria desrespeitoso tal indumentária. Lógico que não poderia faltar o chapéu! Por isso, acho que posso reapresentar o texto do Chapéu nosso de cada dia.

                

                Houve um tempo em que o chapéu, esse produto


 cultural tão antigo, era indispensável para se sair de casa.

 De dia ele nos protegia das chuvas finas e dos raios 

solares, “para não esquentar os miolos”; nas noites a

 proteção era contra o sereno, a friagem natural que podia 

deixar resfriado, “capaz de ficar constipado”.

                A produção de chapéu era artesanal, com as mulheres se esmerando entre palhas de junco, de brejauba, de bananeira e outras matérias-primas do nosso entorno. Não era incomum avistar, geralmente nas salas das casas, as “bolas de tranças”.
                As tranças eram feitas a partir de material devidamente preparado, ocupando os momentos de descontração, enquanto proseavam. Depois era só costurar as bordas, no sentido de dentro para fora, usando fios resistentes, de preferência os de tucum que davam um perfeito acabamento.
                De acordo com a tia Maria Mesquita, fazer tranças para vender nos barcos de cabotagem  era uma alternativa econômica: “Rendia um dinheirinho que permitia a gente comprar cortes de fazenda para as roupinhas das crianças, para fazer vestidos”.
                Homens e mulheres saíam pelos matos coletando, principalmente as palmas novas de brejauba. Se precavendo contra as cobras peçonhentas, os caiçaras esfregavam alho nos braços e nas pernas. Depois murchavam a palhada no terreiro, de preferência sobre pedras, e, mão à obra. Um recurso para manter o chapéu no tom amarelo vivo era abafá-lo no enxofre queimado. Quanto charme num desses chapéus!
                Interessante era ver as pessoas tirarem suas coberturas ao se cumprimentarem, ao pedirem ou darem suas bênçãos ou simplesmente para mostrarem suas cabeleiras bem arrumadas e devidamente mantidas pelos chapéus. Nas igrejas ninguém entrava de chapéu na cabeça.
                O filósofo Jean-Paul Sartre escreveu este detalhe a respeito de outra utilidade do chapéu: “Você botava as madeixas dentro da copa e já nem se sabia se ainda tinha cabelos”.
                Na cidade vizinha de São Luiz do Paraitinga existe o Rio do Chapéu. De acordo com os relatos de cronistas de outros tempos, ali funcionava a famosa Fábrica de Chapéus, de onde descia regularmente uma tropa de burros com seus produtos a serem escoados pelo porto de Ubatuba. Essa tropa chamava a atenção pelo tom claro que se destacava de longe entre o verdor da mata, na nossa Mata Atlântica. Era a “Tropa branca”.


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