domingo, 31 de março de 2013

RESPEITO CAIPIRA



Ah! Que beleza era uma cantoria de caiçaras e caipiras no serão!  (Arquivo  Kilza Setti)


Eu tenho uma amiga caipira de muito tempo. A Alzira é de Natividade da Serra, mas não consegue ficar muito tempo sem passear por Ubatuba. Quando a gente se encontra é para se informar das famílias, do trabalho, de como vai a saúde etc.
O trabalho da Alzira e de seu marido Zé é cuidar de um pequeno sítio. Também ganham algum dinheiro fazendo  breves trabalhos para terceiros. O único filho que tiveram foi-lhes roubado há quase trinta anos, lá na roça mesmo. Alguém chegou de carro, fez um agrado para a criança que estava perto da cerca e a levou. Nunca mais ninguém a viu. De lá pra cá, mesmo passando o sofrimento inicial que quase enlouqueceu o casal, não tem como esquecer a infelicidade. Basta ficar mais de quinze minutos com eles para que a veia da tragédia se levante na carne dos dois.
Num dia desses estava eu andando pela Rua Conceição; de longe avistei os dois e fui ao encontro deles. Que simpáticos! 
Tem um gesto que eu acho lindo no Zé: em toda ocasião, ao me cumprimentar, ele tira o chapéu e permanece com ele na mão por todo o tempo que durar a nossa conversa. Só após a despedida a indumentária retorna à cabeça. É um ritual de respeito caipira. Quem me explicou isso num tempo distante foi o vovô Armiro: “É uma saudação, uma acolhida ao outro, como se dissesse  que você merece ser reverenciado, a sua amizade é muito importante para mim”.
O vovô era de uma geração de grande afeição pelos caipiras, sobretudo da Vargem Grande e das Palmeiras. Era “gente de serra acima”, conforme diziam. Até por volta de 1960, era comum o comércio entre caiçaras e caipiras. De um lado vinha queijo, farinha de milho e carne seca; de outro era peixe seco, farinha de mandioca e pinga. Alguns desses caipiras  trabalhavam como diaristas nos bananais e nas roças de mandioca. Muitos nunca mais voltaram pros lados da serra acima. Exemplos: Donária, Toninho “Caipira”, Dito Máximo etc...

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