quarta-feira, 13 de junho de 2012

GENTE DESSE TEMPO




                Enquanto estou escrevendo, repassando a minha prosa com o finado Aristeu, filho da Ilha do Tamanduá, vou pensando em determinados moradores do território que está sendo explicado. Agora, por exemplo, penso no trabalho de graduação individual apresentado pelo Domingos, no curso de Geografia da Universidade de São Paulo, no começo da década de 1990, ou seja, que já completou 20 anos. Nele foi abordado, a partir de uma entrevista com a dona Maria Galdino, filha de escravo da região da Caçandoca, como era a vida ali, como estava a situação após a ruína econômica de Ubatuba a partir da segunda metade do século XIX. Esse trabalho serviu de base para o tombamento do quilombo da Caçandoca há poucos anos.

                Na verdade, a região da antiga Fazenda Caçandoca, que vai da Pedra do Cruzeiro (ou do Xis) até a Pedra do Frade, da família Antunes de Sá, é um espaço bem claro de entrelaçamento cultural neste pedaço do litoral brasileiro: os pobres que já eram mestiçados se juntaram com os negros e aumentaram a mestiçagem na área que foi se arruinando. Um detalhe: o dono da fazenda escolheu ficar e se arruinar com a propriedade.

                As razões dessa opção talvez tenha sido a beleza, a tranquilidade  e a fartura do lugar, lembrando um paraíso com muita permissividade, atraindo até moradores de outros lugares próximos e das ilhas. Logo tinha muitos negros, loiros e morenos com o nome de Antunes de Sá. É assim -se misturando-  que o pobre resiste. Quero dizer que o título atual de quilombo foi uma estratégia para ter um espaço mais seguro, na lei das comunidades tradicionais, porque a resistência foi de todos que se tornaram pescadores e roceiros com uma devoção popular repleta de festas, onde, ambas as dimensões (sagrado e profano) era o combustível essencial para viver com alegria e simplicidade. Isso tudo está no valioso documento do Domingos que eu penso publicar em partes.

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