domingo, 3 de junho de 2012

UM SER LADINO, BEM CAIÇARA


Manhã maravihosa na praia da Fortaleza - (Arquivo Henrique)

                O Dário Barreto, o tio Dário da Fortaleza, se aposentou como funcionário da prefeitura. Ele e João de Grilo cuidavam da estrada municipal que vai da praia Dura até a praia da Fortaleza. O trabalho deles era carpir, preencher buracos, fazer valetas para escorrer água da chuva, cortar algum galho que atrapalhava a circulação etc.
                Por estarem sempre na estrada, viviam dando informações para os turistas, explicando os lugares, indicando os perigos, recomendando os melhores pontos de pesca etc.
                Para quem conhece bem a estrada, sabe que ela é inteiramente arborizada. No seu percurso, outras praias, maravilhosas por suas especificidades, transbordam de beleza. A prainha do Costa, por exemplo, abriga um mato cheio de jaqueiras. Pelo chão, nos meses de janeiro e fevereiro, não tem como isso passar despercebido, sobretudo devido ao cheiro peculiar das jacas maduras que se esborracham no capim rasteiro.
                Foi assim que, numa ocasião, estando os dois companheiros sentados num toco e comendo uma saborosa jaca cabacinha, uma chique Variant encostou alguns metros deles. Do veículo saiu uma turista querendo saber de uma praia onde pudesse passar o dia todo descansando. Também quis saber daquilo que eles comiam. Não conhecia a jaca. Oôôô dó!
                Experimentou; adorou. Na mesma hora queria uma muda, saber como cuidava e quanto tempo demorava a dar frutos. Foi a ocasião de entrar a ladinice do tio Dário: pegou um engaço que até continha uma folha miúda, explicando que aquilo era a muda; só bastava cuidar bem depois de escolher uma terra boa para enterrá-la. A mulher  - toda contente, coitada! – enrolou aquilo num jornal e se foi. O João de Grilo disse depois que não se conformava com aquilo, mas não pode deixar de rir muito.

                (Para quem não sabe: o engaço é a parte central, de onde saem os favos da jaca. Portanto, é parte morta depois que se desprende ao amadurecer; jamais vai brotar. A mulher, depois de muito esperar, deve ter pensado que “alguma coisa não deu certo, mesmo o bondoso caiçara ter sido tão prestativo, explicar tão bem como devia ser feito”).

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