segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O espaço da praia na cultura caiçara

Eis o que restou da praia do Saco da Ribeira, que testemunhou tantos momentos da cultura caiçara!
                A praia, assim como o morro, a costeira, a badeja, a vargem, a queimada, a gamboa e a restinga, sempre foi essencial ao caiçara. Dela saem:  peixe,  molusco e crustáceo. Nela se encontram as pessoas para conversas e divertimentos, tais como jogos e disputas (combinação, pasquim, regata, malha,natação, peteca, rodas etc.).
                Uma  das imagens mais marcantes da minha infância é a puxada de rede na praia. Tudo era previamente combinado, ou melhor, os moradores de determinado local já sabiam, desde tempo mais antigo, que em tal dia da semana ocorria pesca comunitária. Bastava comparecer para ajudar nos remos (ou fazendo força nos cabos, ou ajudando a fechar a tralha em sincronia, ou aparando por fora, ou simplesmente participando da escolha, na separação das taras etc.). No final da atividade... todos tinham o seu quinhão!
                Na travessa de jacatirão da sala do vovô Armiro ficava um búzio feito de chifre de boi. Era ele que, na madrugada, conduzindo esse instrumento até o rancho das canoas, tocava-o. Portanto, “tocá o buzo” é uma expressão que significa convocação para uma atividade comunitária, para uma urgência.
                Hoje, sinto tristeza quando um espaço público por excelência vai sendo tomado por interesses elitistas. Ou seja, vai colocando os menos privilegiados em espaços reduzidos, degradantes ou “não interessantes por enquanto”. Deste modo, resta a marginalização (ficar à margem, em espaços inadequados, de risco etc.). Enfim, é muita miséria humana não perceber ou não querer enxergar que tais afrontas, além de poluição sob todos os aspectos, é redução da possibilidade de paz e harmonia. Quando “bamo tocá o buzo”?

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