sábado, 7 de janeiro de 2012

Acompanhando o passo

Praia Mansa, na Ilhabela (1994)- Chico está em primeiro plano, de camisa branca, olhando o final da acomodação dessa gigantesca canoa até o jundu. Se repararem, há uma "máquina" construída longe da água só para esta finalidade: puxar a canoa com um mínimo de esforço. Não encontrei aparelho igual em nenhum outro lugar.
Chico Lopes sempre foi acostumado com o mato e seus sons, mesmo na escuridão da noite. Caçador experiente, não se assustava com cobra ou outro bicho qualquer. Saía para caçar ao anoitecer e passava horas “espiando a ceva”, ou seja, vigiando o local onde era colocada comida como isca para os bichos, do alto de uma plataforma rústica construída numa árvore. Quando ouvia os conhecidos barulhos dos bichos, acendia a lanterna e atirava.
Certa noite, desistindo da vigília, pois já passava das dez horas, ia voltando para casa quando percebeu um barulho diferente. Não era nenhum bicho – com o que já era acostumado –, parecia ser passos. Parou, e o barulho parou também. Olhou em volta, não viu nada. Continuou a andar e no mesmo instante o barulho recomeçou. Se apressava o passo, aquele “acompanhante” fazia o mesmo. Quando chegou em terras de propriedade do Dito, seu cunhado, a cachorrada veio enfurecida, latindo sem parar, mas não era no Chico, com quem já eram familiarizados e sim em algo invisível, ao seu lado, justamente de onde vinha o som que o acompanhava. Assim continuaram até que o Chico, trêmulo, ultrapassou a porteira da propriedade e o tal som misterioso que o acompanhava cessou de uma vez.
Foi assim que o Chico, que nunca teve medo de cobra, onça ou escuridão, soube o que é ter medo de assombração.

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