domingo, 20 de dezembro de 2020

FARRA DE CAUSOS (XVI)

 

Arte da Maria (Arquivo JRS)

AS MOEDAS

       Eu e mais três garotas trabalhávamos numa barraca de coco no caminho do Itaguá, no horário de quatro da tarde até por volta das duas da madrugada. Ao lado da barraca havia um restaurante que fechava no mesmo horário. Então nós conhecemos os funcionários e entre eles havia o Carlos, com quem mais me identifiquei, tanto que hoje ele é meu compadre.

      Eu sempre gostei muito de fazer palavras cruzadas e, como o Carlos também gostava, quando fechava o restaurante, ele já estava lá na barraca para fazer as palavras cruzadas. E isso virou rotina por uns dois meses, até que numa quinta-feira que chovia muito, o restaurante fechou bem mais cedo, mas na hora marcada o Carlos apareceu  e falou que não iria fazer palavras cruzadas naquele dia e que só tinha passado para para me dar um presente. Ele disse: "feche os olhos e abra as mãos", e nas minhas mãos ele colocou um monte de moedas antigas. Nesse momento, umas das minhas colegas me chamou e eu me virei com as mãos cheias de moedas. Então ele me perguntou onde eu havia arrumado aquilo. Eu respondi que o Carlos havia me dado. Quando eu me virei, ele não estava mais ali. As minhas colegas ficaram teimando comigo que ele não esteve lá naquele dia.

      Fechamos a barraca e fomos embora. Cheguei em casa, guardei as moedas, falei com minha mãe e fui dormir. No dia seguinte ocorreu tudo normalmente. No horário de sempre chegou o Carlos brincando e perguntando se tínhamos sentido a falta dele. Eu disse: "por que você está falando desse jeito, sendo que ontem você veio aqui e me deu um monte de moedas antigas?". Ele ficou pasmo e disse que eu estava ficando doida, pois ele terminou o serviço e foi dormir, já que não estava se sentido muito bem.

    Passados alguns dias, meu amigo Duda foi em casa e eu pedi a ele que fizesse um porta-joias para mim, usando as moedas antigas como material para enfeite e ele levou as moedas. Alguns dias depois ele veio se desculpar, dizendo que não poderia fazer o porta-joias. Ele morava no Horto e alguém havia entrado em sua casa, revirado tudo, mas as únicas coisas que ele sentiu falta foram as moedas.

   Contei isso ao Carlos, aí é que ele disse que eu estava ficando doida mesmo.

(Autora: R.M.R.S)

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