quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

A LUZ DO AMANHECER.

Vovó Martinha (Arquivo Valdeni)


      Todo dia deveria ser aproveitado para viver bem. Cada dia deveria se encerrar com um momento de reflexão a respeito de como o vivemos, das alegrias e saudades que preencheu o nosso ser nas tantas horas desse período denominado de vida vivida.

    Vovó Martinha, a nossa parteira, nasceu na praia do Pulso, mas seus últimos anos de vida foram passados na Estufa, em Ubatuba. Assim que enviuvou, eu passei a lhe fazer companhia numa porção dos dias. Aprendi mais coisas com ela nesse período, dei muitas risadas de suas histórias. Quantas refeições demoraram em prosas entre nós dois?!

    Numa época assim, perto do Natal, sentados na varanda e olhando os transeuntes na rua em frente, eu perguntei se ela desejava uns enfeites na beira do telhado com luzes coloridas, como outras casas da vizinhança. Ela, olhando calmamente, disse o seguinte:

    "Bobeira, meu filho. Não gaste dinheiro nisso. Natal é mais uma data, mais um dia que vivemos. Assim como pensamos a cada dia que vivemos, ao findar de cada ano deveria ser feita a mesma coisa. Quantas coisas bonitas eu vi, mas que não me acrescentaram coisa alguma!? O que me marca a cada dia, em todo ano que passa, é a alegria. Quantas pessoas, deste dia, deste ano que vai se findando, me fizeram feliz!?  Desfrutei de sorrisos sinceros? Sinto saudades de coisas, de momentos e de pessoas? O que ficará como desejo de viver novamente? Agora, sentindo que estou chegando ao fim da vida, lamento pelas coisas boas que não existem mais. Mas também estou contente porque muitas coisas ruins deixaram de existir! Às vezes, todo esses enfeites se usa só para disfarçar a escuridão, para se esconder ou esconder coisas de nós mesmos.  Uma lição de valia, que eu tiro deste tempo de vivência nesta terra, é que precisei conviver com a escuridão para dar valor à luz de cada amanhecer".

 

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