segunda-feira, 21 de maio de 2012

O QUARADOR


Uma simples bica com uma maravilhosa água!


                Quando eu era criança, eram poucas as casas da cidade de Ubatuba que tinham água encanada. Ou seja, para a maioria das pessoas os rios eram a serventia para tudo. Dele vinha a água para beber, tomar banho, “consertar” peixe, lavar louça e roupa e muitas outras coisas.

                Era comum, no capim rasteiro do caminho, nas proximidades do rio, sempre encontrar roupas espalhadas. Tais lugares eram os quaradores. Explico: quarar roupa era um procedimento das lavadeiras. Depois de bater a roupa, ensaboava de novo essa mesma roupa e depositava sobre o mato rasteiro para quarar. Isto quer dizer que as peças ficavam expostas ao sol para ficarem mais limpas. Seria como se o sol cozinhasse a sujeira antes da definitiva esfregada e passagem pelas águas do rio. Pronto! Estava limpa! Caso se tratasse de uma roupa branca especial, de festa, ela podia ainda ficar numa solução de anil a fim de ganhar um branco azulado e se destacar mais.

                Imagine as broncas que as crianças distraídas escutavam. Andando sem reparar por onde andavam, era comum as nossas pegadas nas peças de roupas que quaravam. Os animais também atrapalhavam sempre, mas depois de umas cacetadas, aprendiam a respeitar o lugar do quarador.
                Em tempo: a água para beber era geralmente recolhida bem cedinho, antes de qualquer outro uso do rio. Ou senão, um lugar especial (uma fonte, por exemplo) era guardado (protegido) para essa utilidade. Lembro muito bem do nhonhô Almiro chegando da biquinha, no pé do morro, com uma talha de barro, onde a água permanecia sempre fresquinha. Sobre a tampa desta, num canto da cozinha, repousava uma caneca de ágata para a gente se servir do maravilhoso líquido

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