sexta-feira, 1 de outubro de 2021

NOSSAS ESCOLAS E NOSSAS ESPERANÇAS


Caiçaras dispostos à instrução - Arquivo Iolanda


     Eu costumo dizer aos mais jovens que somos aquilo que a educação faz da gente. Primeiramente é a família que nos encaminha na cultura popular, nos ensina a humanidade. Depois, há a necessidade de recorrer à escola para um arranque na cultura erudita, no sistema educacional que tem a pretensão de manter a unidade nacional e de garantir a continuidade da evolução em todos os aspectos: sociais, econômicos, políticos etc. É como se nossos pais dissessem isto: “Até aqui nós lhe ensinamos o que estava ao nosso alcance. Agora, você vai para a escola para aprender um pouco daquilo que a cultura humana produziu ao longo de toda história, pelas civilizações”. É lançado para a criança o desafio de dominar teorias capazes de iluminar práticas e de permitirem releituras de mundo. Mas por que comecei escrevendo isto?

    De repente pensei na necessidade de cada comunidade da nossa cidade, de Ubatuba, recuperar a história escolar dela. Explico: há textos e fotografias que precisam ser explorados; há arquivos escolares desses tempos mais antigos, de quando foram surgindo as salas de aulas nas comunidades isoladas e as escolas nas praias e sertões desse nosso lugar. Por exemplo: ao contar a história da vida escolar na praia Grande do Bonete, comunidade dos Rosenos, dos Lopes  e outros, precisa-se considerar o que falou a Maria Balio, nascida na praia da Justa, mas que terminou seus dias na praia do Sapê: “Em 1959, fui lecionar na praia do Bonete, onde também não tinha escola. Todos de lá ficaram contentes com a novidade. As aulas aconteciam num rancho, na beira da praia. Quando chovia, os cadernos voavam com o vento e tínhamos que suspender as aulas”.   Antes disso, conforme explicavam os mais velhos da praia da Fortaleza, onde mamãe nasceu e foi alfabetizada, “os alunos de outros lugares se deslocavam para cá, pois só aqui tinha escola, funcionava na casa do tio Onofre. Desde a Prainha, quase chegando na Lagoinha, vinha gente. O Neco Zacarias vinha todos os dias daquela distância para ter aula; se juntava com outros da praia Grande e venciam o Morro da Bidu na facilidade típica de criança. Depois da aula, voltava aquela montoeira de crianças morro acima. Iam brincando, jogando pedras no mato, fazendo artes no trajeto”.

      Creio que os pais desejam o melhor aos filhos, não imaginam a sociedade regredindo, deixando de evoluir por falta de uma escolaridade significativa, de reflexões comprometidas com as melhorias sociais. Não faz sentido a minha filha e o meu filho, em vez de tocarem a bola para frente, recuá-la.  Ela e ele precisam ser melhores do que eu. As novas gerações são as nossas esperanças.


4 comentários:

  1. Tantas lembranças, dificuldades para os pequenos que as brincadeiras na volta os faziam se divertirem.

    Parabéns Mestre !

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  2. Pois é, e assim foram alfabetizados para entenderem além do mundo caiçara.

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  3. Infelizmente, Zé, muitos pais estão preocupados apenas com o bem-estar de seus filhos, ou seja, que se deem bem na vida. Os filhos dos outros podem ser explorados, escravizados, eliminados. Reflexões comprometidas com as melhorias sociais fazem parte dos sonhos de poucos, senão não haveria tanto gado.

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    1. É nisto que devemos apostar: nas reflexões comprometidas com as melhorias sociais. Valeu, Jorge!

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