sábado, 23 de outubro de 2021

CADA HISTÓRIA TEM A SUA RAZÃO

 
Nas praias de Ubatuba - Acervo Museu Municipal de Ubatuba 

        Hoje sabemos, graças às ciências, que houve um tempo de degelo no planeta Terra, na NOSSA CASA, por volta de doze mil anos antes deste tempo atual. Civilizações primitivas deixaram seus registros em forma de histórias, de mitos. 


      Muitos dos povos originários do Brasil, dentre eles os da etnia Tupinambá, dizem que Temendorare /Tamandaré foi o repovoador da Terra depois que tudo foi inundado. O cronista Thevet, que conviveu com os indígenas onde hoje é a Baía da Guanabara, escreveu assim: "Dois irmãos com suas famílias subiram nas árvores que acharam: Temendorare em sua palmeira; Aricute em um genipapeiro". 

      Padre Heliodoro Pires contou de outra forma: "Quando houve a grande cheia que inundou a terra toda, Tamandaré salvou-se no alto da carnaúba, que flutuava sobre as águas".

      Couto de Magalhães escreveu: "Acima das coisas da terra existia Monhan (o construtor, o edificador, o autor). De Monhan nasceram dois filhos: Somé e Caraíba. Deste, que foi queimado pelos selvagens, nasceram também dois filhos: Tamandaré e Aricuta. Tamandaré era agricultor e bom; Aricuta era mau, valente e guerreiro. Logo tentou matar o irmão que, batendo o pé na terra, deu causa a que surgisse uma fonte que produziu um dilúvio. Para salvação de suas vidas, subiram aos mais altos montes, mas com eles subiram as águas. Então, Tamandaré, o bom, subiu numa palmeira e Aricuta se acomoda sobre o genipá. Com toda aquela água, morreram todos os seres da Terra, menos Tamandaré (tab-moi-nda-ré) - 'aquele que fundou povo' - e Aricuta e suas mulheres, dos quais descendem todos as pessoas. Os bons (tupis ou tupinambás) descendem de Tamandaré; os maus (ou teminus), de Aricuta. Por isso existe e sempre existirá guerra entre eles".


     Concluindo: cada história tem sua razão, suas razões. É certeza que cada povo originário tem sua história em torno desse fenômeno, pelo degelo, pelo qual passou o planeta. Agora, tenhamos em mente que esses cronistas, de visão eurocêntrica, cristã,  as adaptarão à cosmogonia deles, aos enfrentamentos que tinham naquele momento de tomada de posse das terras brasileiras e das suas riquezas. Atualmente, em tempo de mentiras instantâneas (graças à tecnologia), que visam sustentar ideologias terríveis, tenhamos isso em mente. Cada história tem sua razão.

   Quem me levou a escrever e repensar sobre isso foi Lita Chastan, na obra São Paulo - Litoral Norte - caiçaras e franceses.

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