sexta-feira, 29 de outubro de 2021

COBRA ENGARRAFADA

     

Uma cobra no caminho - Arquivo JRS

     Chico Lopes estava escavando uma valeta para lançar o alicerce de uma casa de veraneio, na praia das Toninhas. Quem conheceu bem aquele lugar sabe que grande parte daquele terreno era brejo abundante em taboa e caxeta. Somente no jundu, até onde hoje passa a rodovia, existia chão firme, de areia. "Como era linda a restinga das Toninhas!". De repente, lá vem o Chico: "Venha ver o que está aqui, no meio dessa lama fedida". Fui ver. Era uma garrafa bem fechada por uma rolha. Depois de lavada, aquele vasilhame revelou o que tinha dentro: uma cobra. Brinquei: "Bem que podia ter um gênio dentro, do tipo gênio da lâmpada".


   A cobra encontrada naquela escavação nem parecia uma cobra. Era como um fiapo, com uma cabeça na extremidade. Quem reconheceu aquilo como cobra foi o próprio Chico: "É uma cobra e está viva! Olha só os olhos dela! Não parece, mas é uma cobra. Alguém, pelo jeito há muito tempo, encerrou ela aí e enterrou neste terreno. Não está fácil descobrir a espécie porque ele perdeu a cor original. Só que, pode ter certeza, caso seja venenosa, que ela tem veneno com carga mortal redobrada. Pode até ser que, graças ao veneno, ela está viva até hoje. Há quanto tempo será que prenderam ela aí?". Outros dois companheiros de trabalho achegaram-se para ver a novidade.


  Eu precisei sair dali por um tempo. Quando retornei, fui logo perguntando: "E aí, Chico, o que fizeram com o bicho engarrafado?". Prontamente ele me indicou uma enorme pedra: "Eu joguei aquela pedra em cima. Quebrou a garrafa e deve ter esmagado ela". Então continuei: "Agora, o que fez tá feito. Sabe de uma coisa, Chico? Acho que essa cobra, agora defunta, foi colocada na garrafa junto com pinga. Não tem gente que tem esse costume bobo, acreditando que tal mistura é capaz de deixar quem faz uso dela mais macho, potente?". Ele sorriu e concordou: "Pode ser mesmo, mas agora a cobra é morta. E se teve alguém que fez tal preparado, também já está morto há muito tempo! De nada mais vale a cobra dele!". Todos riram deste final do assunto.

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