segunda-feira, 16 de novembro de 2020

FARRA DE CAUSOS (X)

 

Meu filho na trilha do Baguary (Arquivo JRS)

SEMANA SANTA

          Fomos todos para roça, estava uma noite muito bonita. Chegando lá ficamos conversando perto do fogão de lenha. Assamos carne e tomamos uma cerveja gelada.

          Meu irmão levantou-se e disse: "Vou no mato buscar um tatu". Minha mãe não gostou : "Não vai não, é semana santa, não pode caçar". "Eu não vou caçar, só vou buscar a gaiola. Se o tatu tiver lá eu trago, se não tiver nada eu venho logo", ele explicou. "Fica aqui com a gente, bobagem ir lá", a mãe insistiu. "Eu não vou demorar", disse ele e saiu.

         Ficamos lá e meu irmão, teimoso, foi. O tempo foi passando e já era tarde, quase uma hora da madrugada. Foi quando chegou o Almir, branco, carregando um bambu. Olhamos para ele e perguntamos: "O que aconteceu? Você está pálido!". "Vocês não vão acreditar no que vou contar! Eu subi no mato e quando cheguei perto da gaiola, a gaiola começou a mexer. Eu pensei que o tatu estava lá comendo, aí eu resolvi subir na árvore para esperar a porta da gaiola cair. Como estava demorando, subi num galho da árvore perto de um bambuzeiro. De repente o bambuzeiro começou a balançar e fez um barulho muito forte ali, igual a uma serra elétrica. Eu comecei a ficar com as pernas moles. Não ventava, era só ali no bambuzeiro, mas era de sujar as calças. Comecei a rezar e pedir para Deus ter piedade de mim, que aquilo parasse, que eu ia embora e soltava o tatu...eu quase chorei de pavor. Foram horas de barulho. A impressão que dava era que estava tudo caindo, e o bambu sendo serrado, um a um. Quando parei de rezar, o barulho parou. Desci correndo e larguei tudo. Vim embora".

        Minha mãe falou: "Falei para não ir lá, né?"

        Fomos dormir e, ao amanhecer o dia, fomos ao lugar e os bambus estavam todos retalhados, cheio de marcas, parecia trabalhado. Era incrível ver aquilo, ninguém acreditava no que a assombração fez em todos os bambus. Pegamos um e guardamos para mostrar.

       Meu irmão nunca mais conseguiu esquecer o que se passou. A gaiola ficou em mil pedaços. Nunca mais ele caçou. Todos que veem o bambu não acreditam.

(Autora: MCS)


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