sábado, 21 de novembro de 2020

FARRA DE CAUSOS (XI)

 

Intervenção urbana (Arquivo JRS)



         BAIRRO DAS PALMEIRAS
   

         Eu tinha cinco anos quando meus pais foram morar no bairro das Palmeiras. Meu pai comprou um bar com terreno grande. Antigamente, contavam que aquela casa era assombrada, mas meus pais nem ligavam. Eles diziam: "vocês são bobos, isso não existe".

        Na primeira noite lá não vimos nada. Eu e meus cinco irmãos passamos a noite toda acordados, com lamparina acesa. Ao amanhecer, andamos pelo quintal e conhecemos os vizinhos, que contaram que ali morava uma família: pai, mãe e sois irmãos. O terreno era muito grande cheio de gado e plantação. O bar tinha muito movimento. Os pais deles eram de idade. A mãe muito doente veio a falecer, logo após o pai também. Ficaram os dois irmãos, brigando pelos bens que haviam herdado. Os dois não entraram em acordo de tomar conta de tudo juntos, um queria mandar mais no outro. Até que, num dia, os dois estavam totalmente bêbados e pegaram a brigar. Foram para a porteira com a espingarda na mão e discutiram muito. Até que eles apontaram a espingarda um na cara do outro e um disse: "eu mando mais, eu sou mais velho". O mais novo engatilhou e os dois no mesmo momento atiraram, tirando suas vidas. Chamaram a polícia, que acolheu os corpos lavados de sangue. Parentes venderam o sítio e justo meu pai comprou.

        A noite em que conseguimos dormir foi depois de dias ali. Quando foi por volta da meia-noite,  começamos a ouvir um barulho de coisas sendo quebradas na cozinha, o fogão parecia ser arrastado pela casa toda, os pratos e as panelas eram jogados. Minha mãe se levantou e disse: "quebrou tudo...minhas louças". Acendeu a luz, tudo estava no lugar. Voltou a se deitar e o barulho recomeçou e assim foi a noite toda. Nas noites seguintes tudo se repetia. Ninguém dormia. Eu chorava de medo.

       Até que minha mãe resolveu ir atrás de um padre para rezar pelas almas dos dois que estavam brigando pelos bens, mesmo depois de mortos. O padre veio e rezou. Na mesma noite o barulho parou. Aí nós pudemos dormir em paz, depois de meses de perturbação. Hoje ainda existe o bar com novo dono, que conhece a história mas não a viveu.

        Perto desse bar construíram uma igrejinha em memória dos dois irmãos.

(Autora: M.C.S)

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