segunda-feira, 15 de outubro de 2012

SAUDADES DE UMA VIDA


Mais uma imagem de regata no Rio Puruba para todos os seguidores, principalmente ao Diógilei e Lucas

                Coitada da Isaura! Agora, passando dos oitenta anos, já viúva, conforme dizer dos antigos caiçaras, “vive variando pela casa”.

                Para ajudar a compreender:

                A Isaura, assim que deixou a solteirice, por imposição do marido, deixou de ser católica para ser “crente” da Congregação Cristã do Brasil. Teve  que dar adeus às funções (bailes), às rezas e festas na capela da praia e às conversas  e visitas espontâneas aos vizinhos. Também deixou de frequentar as rodas de conversas tão comum após os momentos litúrgicos na capela São João Batista.  

                Após a conversão, novos hábitos tiveram de ser adotados. Os cabelos não poderiam ser cortados, o marido e os meninos teriam de andar sempre de calças compridas. As meninas deixaram de cultivar a vaidade como as demais da localidade. As vestimentas para se apresentar nos cultos nas praias Brava e do Lázaro, exigiram investimentos: eram ternos caprichados pelo alfaiate da cidade, o Mendes. Os vestidos não poderiam mais ser da chita floreada consumida pelas demais caiçaras. Era uma boa quantia do tão custoso dinheiro só para as roupas.

                O pior ficou para os santos, digo, imagens e miniaturas em gesso e cerâmica. Foram quebrados, queimados, enterrados, jogados nas costeiras ou nos penhascos. Os católicos somente lamentavam. Os “crentes” destoavam de uma história de séculos,  mas fazer o quê? Continuavam amigos, eram parentes, mesmo que vivessem à parte da comunidade. Nem dos pitirões (mutirões) eles participavam mais. Notadamente, outro espírito passou a nortear o meu povo. Destes “novos caiçaras” veio uma nova onda de capitalistas. Até hoje é assim: parece que o acúmulo de riquezas (dinheiro e bens) é sinal evidente da graça de Deus.

                Agora a Isaura está variando. Vive recitando as rezas da sua juventude, cantando as maravilhosas composições da sua religiosidade primeira. Reza terço diariamente. E xinga! Tudo isso faz parte das  saudades de um tempo bom, que marcou muito a querida Isaura. Será, então, que a coitada passou a maior parte da vida se reprimindo?

                Isto eu já li do Umberto Eco: “Recordar é selecionar”.

               

Um comentário:

  1. Obrigado pela homenagem e menção.

    Amo Ubatuba!

    Estou conhecendo mais minha querida cidade devido à página que criei no Facebook :

    Ubatuba - Bonita por natureza

    Curta a página,onde procuro mostrar TODA a Ubatuba,desde a divisa com a Tabatinga até o Cambury,divisa com Trindade,Paraty,já no RJ.

    E por causa disto,venho publicando fatos e fotos da região norte também, que,infelizmente,não conhecia quase nada e é fantástica.

    Nós do sul de Ubatuba não conhecemos muito o norte e vice-versa.

    Admiro muito seu site e percebo a qualidade das publicações.

    Parabéns!

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